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Desgaste do governo federal pode afetar as eleições no ES

15 de julho de 2021

Especialistas afirmam que as repercussões com relação à CPI da Covid e do inquérito aberto contra Bolsonaro vão impactar as eleições no Estado, além de traçarem alguns possíveis cenários

Desgaste do governo federal pode afetar as eleições no ESFoto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil

O governo federal vem amargando desgaste crescente com a CPI da Covid, com as manifestações populares e com o inquérito aberto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

As últimas pesquisas mostram que Bolsonaro tem perdido prestígio popular, com mais de 50% de rejeição.

Especialistas defendem que ainda é cedo para prever quais serão os desdobramentos do complexo cenário atual, mas garantem que as repercussões, sejam elas quais forem, vão impactar o processo eleitoral nos estados.

"A manutenção do apoio ao presidente, mesmo diante dos crimes revelados pela CPI, da abertura de inquéritos e demais revelações por outros meios, certamente podem prejudicar aliados nas próximas eleições, inclusive aqueles que possuem mandato. Acredito que muito ainda está por ser revelado e o desgaste do presidente, a meu ver, é irreversível. Só não é irreversível se um fato novo e bombástico vier à tona", opinou o historiador e cientista político Ueber José de Oliveira.

Com Bolsonaro sob pressão, outros projetos de governo buscam se fortalecer diante do eleitorado. Com o retorno de Lula para o tabuleiro político, o PT busca se consolidar como o principal contraponto capaz de desbancar o presidente nas urnas.

É neste contexto que o discurso da chamada terceira via (ainda sem um nome consolidado) vem ganhando força.

“O enfraquecimento do Bolsonaro impulsiona não só a candidatura do Lula, mas também a articulação de uma candidatura alternativa de centro. Isso pode ter reflexo no Espírito Santo”, afirmou o cientista político Fernando Pignaton.

Já para Ueber, as discussões sobre o tema são equivocadas. "É falacioso na sua essência, como se o lulopetismo e o bolsonarismo expressassem dois polos extremos. Lula nunca foi uma liderança radical, o mesmo podendo ser dito sobre o campo majoritário do PT. Qual outra liderança tem mais capacidade de agregar? Nenhuma! E entenda: isso não é elogio a Lula. Por outro lado, o bolsonarismo sim representa um extremo", defendeu.

Reeleição de Casagrande?

Desgaste do governo federal pode afetar as eleições no ESFoto: Reprodução / Data Business

O governador Renato Casagrande (PSB) ainda que não tenha declarado abertamente, deve buscar a reeleição.

Com o bom desempenho no combate à pandemia da covid-19, contas equilibradas e o apoio quase unânime do Legislativo estadual, o governador vem sinalizando que vai priorizar as “entregas” nos próximos meses para carimbar o saldo positivo diante dos eleitores.

“O governo do Estado ainda não tem a marca de 'realizador'. A melhor marca do governo do Estado está sendo a performance positiva na pandemia”, disse Pignaton.

Com o discurso da renovação em evidência em âmbito nacional, algumas “surpresas” podem dificultar os planos do socialista.

Se, por um lado, Casagrande não entra diretamente neste debate Lula X Bolsonaro, por outro também não é o nome que caracteriza renovação.

É neste cenário que uma eventual candidatura ao governo do Estado de Felipe Rigoni (PSB), que tem conversas adiantadas para se filiar ao PSDB, poderia ganhar força.

No clube dos tucanos, o nome do deputado federal estaria ancorado ao de Eduardo Leite, que busca se viabilizar como o candidato do partido à Presidência da República e vem ganhando força.

No mês passado, Eduardo Leite esteve no Espírito Santo para participar de um encontro da executiva regional. Rigoni também participou e fez diversos elogios ao governador do Rio Grande do Sul. Segundo o deputado, filiando-se ao PSDB ou não, ele vai apoiar a candidatura de Leite.

"Parece que está tendo um movimento junto à candidatura do Eduardo Leite de vários desses quadros novos da política nacional se lançarem candidato a governador. Isso está sendo muito discutido em torno do crescimento de Leite, e a expressão dessa candidatura aqui seria o Rigoni", explicou Pignaton.

Em evidência por conta da atuação na CPI da Covid, o senador Fabiano Contarato, que está de saída da Rede, também já mostrou interesse em chegar ao Palácio Anchieta. O parlamentar ainda não anunciou se vai se filiar ao PT ou PDT.

Para Ueber, Contarato aparece como uma das únicas peças do xadrez eleitoral que pode dificultar a reeleição de Casagrande.

"Caso Casagrande seja candidato, ele deve se reeleger sem dificuldades. O que mais tem potencial de ameaçar a sua reeleição é o senador Fabiano Contarato, que vem ampliando seu prestígio, graças ao mandato muito bem avaliado que vem desempenhando", pontuou.

Se a escolha de Contarato for pela filiação ao partido do ex-presidente, a candidatura não é uma garantia, já que a legenda pode abrir mão de lançar um nome próprio ao governo do Estado em 2022 em troca do apoio do PSB nacional à candidatura de Lula.

Essa questão, entretanto, não seria um problema para o senador, que afirmou que a filiação não estará condicionada à garantia de candidatura ao governo estadual.

Outros nomes que vêm se movimentando para viabilizar uma candidatura ao Palácio, e que podem tentar uma carona no discurso da terceira via (ainda que não representem isso), segundo Pignaton, são o prefeito de Linhares Guerino Zanon (MDB) e o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede).

“Se houver uma terceira via que se afirme, que mostre competitividade para chegar no segundo turno, esse movimento pode ganhar muito impulso no Espírito Santo. No Estado a rejeição à sigla do PT é muito grande e Bolsonaro está em declínio”, opinou Pignaton. 

Candidaturas bolsonaristas no Espírito Santo

Já os nomes que representam o projeto Bolsonarista no Espírito Santo, como Evair de Melo (PP) e Carlos Manato (sem partido), tendem a perder força.

“O Bolsonaro enfraquecido afeta essas candidaturas. Podemos ter uma redução de potência, de musculatura da candidatura que vai ser âncora da candidatura Bolsonaro aqui no Espirito Santo”, disse Pignaton.

Evair disse que vai buscar a reeleição na Câmara dos Deputados, mas não descartou mudanças de planos. Já Carlos Manato se coloca como candidato ao governo.

Na prática, porém, Evair é o nome com mandato e que tem estado ao lado do presidente em Brasília e em viagens aos estados. Por isso, nos bastidores ele é apontado como o favorito para tentar emplacar o projeto bolsonarista no Palácio Anchieta em 2022.

Para Ueber, a tendência em torno de nomes que defendem o projeto bolsonarista no Estado é de enfraquecimento.

A exemplo do ex-senador Magno Malta, com seu estilo espalhafatoso e performático, Carlos Manato, Erick Musso (Republicanos), deputado Capitão Assunção, além do prefeito de Vitória eleito em 2020, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Esse grupo, que, a grosso modo, representa os valores do Bolsonarismo no Espírito Santo, tende a se enfraquecer com a derrocada do Bolsonarismo".

Congresso Nacional: Deputados têm perfil conservador

Desgaste do governo federal pode afetar as eleições no ESFoto: Reprodução/Bastidores

Os especialistas ainda defendem que a configuração da bancada capixaba no Congresso Federal, a maioria de direita, e alguns, direta conservadora, deve mudar em 2022.

Dos dez deputados federais, pelo menos seis têm perfil conservador e seguem apoiando o presidente Bolsonaro.

Para Pignaton, "considerando que o Bolsonaro tem quase 25% de intenção de voto, ele deve fazer pelo menos dois deputados federais em um estado como Espírito Santo, que tem dez vagas. Mas o compartimento total do voto conservador vai se contrair na próxima eleição e a briga entre eles vai ser maior. Qual deles será prejudicado, a gente não sabe”.

"Mudanças se fazem necessárias. Estamos muito mal de representantes. Com exceção de alguns poucos, a representação se mostra desprovida de energia, de bandeiras capazes de angariar apoios de outras bancadas, dada a diminuta bancada do Espírito Santo no Congresso. Dos deputados, os que têm mais chances de êxito é o ex-prefeito de Cariacica Helder Salomão", disse Ueber.

Já no Senado Federal, a análise é que a CPI vem contribuindo para o enfraquecimento da senadora Rose de Freitas (MDB), que não tem participado das discussões na comissão.

“As pessoas interpretam que ela não está cumprindo o papel dela porque ela está com vergonha de aparecer, e pode ser cobrada da mesma forma que cobraria dos outros na CPI. Todo mundo está de olho na CPI. Quem se omite, perde”, disse Pignaton.

O historiador e cientista político Ueber de Oliveira também acredita que a senadora vai encontrar dificuldades. "Rosilda de Freitas não deve se reeleger", defendeu.

Recentemente, a senadora teve o nome envolvido em supostos esquemas de corrupção na Codesa. Com a proximidade das eleições ela pode ter dificuldade em reverter o desgaste, e abrir caminho para outro nome. Paulo Hartung, principalmente.

Valedoitaúnas (Folha Vitória)



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