Desemprego acelera e atinge recorde de 14,4% no trimestre encerrado em agosto
30 de outubro de 2020Alta está relacionada ao maior número de pessoas em busca em uma vaga, diz IBGE. São 13,8 milhões de desempregados
Taxa de desemprego no Brasil bate recorde em agosto Foto: Agência O Globo Newsletters
A flexibilização das medidas de isolamento levou mais brasileiros a procurar trabalho e pressionou a taxa de desemprego, que bateu novo recorde no trimestre encerrado em agosto. A taxa acelerou para 14,4%, de acordo com dados da Pnad Contínua do IBGE, divulgados nesta sexta-feira. São 13,8 milhões de brasileiros à procura de uma vaga.
No trimestre encerrado em maio, que serve como base de comparação, a taxa de estava em 12,9%. Um ano antes, em agosto de 2019, o desemprego atingia 11,8% da população. Na metodologia do IBGE, é considerado desempregado quem procura emprego e não acha.
“O aumento da taxa está relacionado ao crescimento do número de pessoas que estavam procurando trabalho. No meio do ano, havia um isolamento maior, com maiores restrições no comércio, e muitas pessoas tinham parado de procurar trabalho por causa desse contexto. Agora, a gente percebe um maior movimento no mercado de trabalho em relação ao trimestre móvel encerrado em maio”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
O resultado revela uma série de recordes negativos, desde que a pesquisa foi iniciada, em 2012. O nível de ocupação foi o menor da série histórica. No trimestre encerrado em agosto, 81,7 milhões de brasileiros estavam ocupados.
Em uma análise da população informal dentro do grupo de ocupados, Adriana calcula que a queda da informalidade respondeu por 29% do total da queda da ocupação em agosto. No trimestre anterior, o recuo da população informal respondeu por 74% da queda da população ocupada total.
“Anteriormente, a queda estava muito concentrada na informalidade, agora está mais diluída. A queda na informalidade, porém, não significa que as pessoas se formalizara. A taxa de informalidade cai porque o informal perdeu sua ocupação” explica a pesquisadora do IBGE.
Em agosto deste ano, a população informal era de 31 milhões, com a taxa do indicador chegando a 38%. No trimestre anterior, a taxa foi 37,6% e, em agosto de 2019, 41,4%.
Desalento é o maior da série
O total representa queda de 5% (4,3 milhões de pessoas) frente a maio deste ano e recuo de 12,8% (12 de milhões de trabalhadores) contra agosto do ano passado. O nível de ocupação, de 46,8% em agosto, é o menor da série do IBGE.
A população subutilizada também foi a maior já registrada. Nos três meses encerrados em agosto deste ano, 33,3 milhões de brasileiros estavam nesta situação. A taxa de subutilização, de 30,6%, também foi recorde.
O trabalhador subutilizado é aquele que está desempregado, trabalha menos do que poderia ou o que procurou emprego na semana da pesquisa mas não estava disponível para assumir a vaga. Também compõe o grupo quem não procurou emprego mas estava disponível para trabalhar.
Os desalentados também atingiram o recorde da série histórica. Na passagem de maio para agosto deste ano, 440 mil pessoas deixaram de procurar emprego porque acreditaram que conseguiriam a vaga, totalizando 5,9 milhões. O percentual deste grupo atingiu a máxima de 5,8%.
Assim, em agosto eram 5,9 milhões de desalentados. A taxa deste indicador ficou em 5,8%, também a maior já registrada.
Trabalhador doméstico
O número de trabalhadores domésticos, por suz vez, foi o menor da série. Em agosto, eram 4,6 milhões de domésticos, 473 mil a menos do que em maio e 1,7 milhão a menos do que agosto de 2019.
Na véspera, foram divulgados os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O dado, referente a setembro, mostrou que o Brasil criou 313 mil empregos formais. Entretanto, as duas pesquisas seguem metodologias diferentes.
Enquanto o Caged calcula apenas o saldo entre demissões e contratações de trabalhadores com carteira assinada, a Pnad mensura desemprego, desalento (pessoas que deixaram de procurar emprego) e pessoas subocupadas (que trabalham menos do que gostariam). Também considera os trabalhadores informais no cálculo.
Agricultura registra crescimento
Entre os dez grupamentos avaliados pelo IBGE, o único que registrou percentual positivo em agosto foi o de Agricultura, que subiu 2,9% na comparação com maio, o que significa que 228 mil pessoas passaram a trabalhar no setor.
“O crescimento da agricultura está ligado ao cultivo do café na região Sudeste. Embora seja um cultivo específico e localizado, é uma atividade importante”, destaca Adriana Berenguy, analista da pesquisa do IBGE.
No mesmo período, a população ocupada da indústria caiu 3,9%, perdendo 427 mil trabalhadores. No comércio, a retração foi de 4,7% (754 mil pessoas a menos). Já na construção, o cenário foi de estabilidade.
Valedoitaúnas/Informações O Globo