Descubra a importância dos candidatos puxadores de voto
23 de setembro de 2020São os candidatos que conquistam número de votos acima da média e ajudam a eleger outros. Agora eles terão de ser do mesmo partido
Candidatos puxadores de voto acabam por eleger pessoas de outros partidos – Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo
Com o fim das coligações para vereadores nas eleições municipais, o papel dos chamados "puxadores de voto" está em xeque. Eles são aqueles candidatos que são conhecidos do público, ou por serem famosos ou pela carreira política de sucesso, e que acabam por ter nas urnas uma votação muito acima da média.
Nas eleições passadas, os puxadores tinham o poder até de eleger candidatos menos expressivos de outros partidos, uma vez que a aliança entre legendas era permitida, mesmo que os ideais entre os partidos não fosse o mesmo. Agora as coligações para cargos do Legislativo foram barradas e a transferência de votos só poderá ocorrer entre os candidatos da mesma legenda.
"O puxador de voto continua sendo importante, mas o candidato tem que ter pelo menos 10% do quociente eleitoral para conseguir a vaga. Se não tiver, morre na praia. O puxador sozinho não é interessante pro partido, mas esta é uma estratégia", analisou o cientista político e pesquisador da FGV, Humberto Dantas.
Como 80% das Câmaras Municipais são pequenas e têm a quantidade mínima de vereadores, variando entre 9 e 11 eleitos, em geral, não há uma coesão. "O cargo de vereador pesa muito na localidade. Mas as Câmaras não têm bancadas partidárias que sigam uma lógica. Há locais que tem um candidato de cada partido. Não há uma organização, nem em São Paulo, que tem 55 vereadores [limite máximo], isso existe", avaliou Dantas.
A vantagem trazida pelos puxadores de voto é inflar o quociente partidário e assim acabar por eleger outros candidatos. Uma das críticas, que foi corrigida com a Reforma Eleitoral aprovada em 2017, foi justamente o fim das coligações. As alianças traziam distorções ao sistema proporcional porque o eleitor votava em A, mas acabava por eleger também o candidato B que, muitas vezes, tinha até um posicionamento ideológico contrário.
Para o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, a mudança nas regras não enterra a figura do puxador de votos. "O sistema brasileiro olha o partido como unidade, apesar de a população ver o candidato. Um nome bem posicionado acaba por contribuir na eleição dos menos votados. Mas parlamentares eleitos com votos acima da média não são a regra. Sem contar que o candidato não pode ter meia dúzia de votos e acreditar que o restante vai receber do partido ou do puxador, ele também precisa atingir o mínimo previsto na legislação", explicou.
Na prática, o puxador ainda vai poder trazer outros nomes com ele, mas agora todos serão do mesmo partido. Para ser eleito, o candidato tem que ter alcançado nas urnas ao menos 10% do quociente eleitoral, isto é um cálculo feito com a divisão do total de votos válidos da eleição pelo número de vagas.
A nova norma garante que o desejo da maioria do eleitorado esteja representado nas Câmaras Municipais e põe fim à possibilidade de eleição dos que não tiveram expressividade nas urnas.
Valedoitaúnas/Informações R7