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Derretimento de gelo na Groenlândia atingiu ponto irreversível, diz estudo

18 de agosto de 2020

Degelo faz com que os oceanos subam cerca de um milímetro em média por ano. Em julho, o gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em 40 anos

Derretimento de gelo na Groenlândia atingiu ponto irreversível, diz estudoDegelo na baía de Disko, na Groenlândia – Foto: Ian Joughin/Universidade de Washington

As camadas de gelo da Groenlândia encolheram a um ponto irreversível, segundo dados publicados nesta semana na revista científica Nature Communications Earth & Environment.

Esse derretimento já está fazendo com que os oceanos subam cerca de um milímetro em média por ano, tornando a Groenlândia a maior responsável por essa elevação. Em julho, o gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em 40 anos.

Se todo o gelo da Groenlândia for eliminado, a água liberada elevaria o nível do mar em 6 metros, em média – o suficiente para inundar muitas cidades costeiras ao redor do mundo. Esse processo, porém, levaria décadas.

De acordo com o estudo, o derretimento ocorre independentemente da velocidade com que o mundo reduz as emissões que causam o aquecimento global.

Os cientistas estudaram dados de 234 geleiras em todo o território ártico ao longo de 34 anos, até 2018, e descobriram que a neve anual não era mais suficiente para reabastecer as geleiras com neve e gelo perdidos no derretimento do verão.

"A Groenlândia vai ser o canário na mina de carvão, e o canário já está praticamente morto neste momento", afirmou um dos autores do estudo, o glaciologista Ian Howat, da Ohio State University, fazendo referência ao uso de pássaros em minas para indicar os níveis de oxigênio.

Derretimento de gelo na Groenlândia atingiu ponto irreversível, diz estudoEm 2019, 11 bilhões de toneladas de gelo derreteram em um único dia na Groenlândia – Foto: Reprodução

Nos últimos 30 anos, o aquecimento no Ártico ocorreu pelo menos duas vezes mais rápido que no resto do mundo, um fenômeno conhecido como "amplificação do Ártico".

O novo estudo sugere que o manto de gelo do território agora ganhará massa apenas uma vez a cada 100 anos – um indicador sombrio de como é difícil fazer crescer novamente as geleiras depois que elas apresentam uma "hemorragia" de gelo.

Ao estudar imagens de satélite das geleiras, os pesquisadores notaram que as geleiras tinham 50% de chance de recuperar a massa antes de 2000. Desde então, as chances vêm diminuindo.

"Ainda estamos drenando mais gelo agora do que o que foi ganho com o acúmulo de neve em 'bons' anos", disse a autora principal Michalea King, uma glaciologista da Ohio State University.

Derretimento de gelo na Groenlândia atingiu ponto irreversível, diz estudo13 de junho de 2019 - Com as patas submersas na água de gelo derretido, cachorros puxam trenó no noroeste da Groenlândia – Foto: Steffen M. Olsen/Centre for Ocean and Ice at the Danish Meteoroligical Institute via AP

As descobertas preocupantes devem estimular os governos a se preparar para a elevação do nível do mar, disse King.

“As coisas que acontecem nas regiões polares não ficam nas regiões polares”, disse ela.

Ainda assim, o mundo pode reduzir as emissões para desacelerar a mudança climática, disseram os cientistas. Mesmo que a Groenlândia não consiga recuperar a massa gelada que cobriu seus 2 milhões de quilômetros quadrados, conter o aumento da temperatura global pode diminuir a taxa de perda de gelo.

"Quando pensamos em ação climática, não estamos falando sobre reconstruir a camada de gelo da Groenlândia", disse Twila Moon, uma glacióloga do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo, que não esteve envolvida no estudo. "Estamos falando sobre a rapidez com que o aumento do nível do mar atinge nossas comunidades, nossa infraestrutura, nossas casas, nossas bases militares".

Derretimento de gelo na Groenlândia atingiu ponto irreversível, diz estudoEm imagem de 2019, iceberg é visto flutuando em um fiorde próximo à cidade de Tasiilaq, na Groenlândia – Foto: Lucas Jackson/Reuters

Região estratégica

O degelo do Ártico trouxe mais água para a região, abrindo rotas para o tráfego marítimo, bem como aumentou o interesse na extração de combustíveis fósseis e outros recursos naturais.

Mas, além disso, a Groenlândia é considerada estrategicamente importante para os militares dos EUA e seu sistema de alerta de mísseis, já que a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha do Ártico.

No ano passado, o presidente Donald Trump ofereceu a compra da Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. Mas a Dinamarca, aliada dos EUA, rejeitou a oferta. Então, no mês passado, os EUA reabriram um consulado na capital do território, Nuuk, e a Dinamarca teria dito na semana passada que estava nomeando um intermediário entre Nuuk e Copenhagen a cerca de 3.500 quilômetros de distância.

Os cientistas, no entanto, há muito se preocupam com o destino da Groenlândia, dada a quantidade de água presa no gelo.

Valedoitaúnas/Informações G1



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