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Depois da gasolina, Petrobras não descarta reduzir preço do diesel

23 de julho de 2022

Negociado nas refinarias brasileiras com valor 3% acima dos preços internacionais, o combustível pode baixar R$ 0,14 por litro

Depois da gasolina, Petrobras não descarta reduzir preço do dieselCom o diesel caro, caminhões têm mais dificuldades para transportar mercadorias – Foto: Freepik/Wirestock

Com a queda de 4,9% no preço da gasolina nas refinarias da Petrobras, que entrou em vigor na quarta-feira (20), aumentaram as especulações e apostas de que também vai haver redução no valor do óleo diesel. Esse combustível é vendido no Brasil com valor entre 2% e 3% mais alto que no mercado externo; antes do reajuste, o preço da gasolina nas refinarias era 8% maior que fora do país (R$ 0,30 por litro).

A diminuição foi possível devido a dois fatores principais: a política de redução de impostos do governo, implementada nas últimas semanas, e a manutenção do câmbio em um nível alto, o que gerou um leve aumento nos preços de referência do diesel e da gasolina no mercado internacional.

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o litro da gasolina R$ 0,20 mais barato zerou a defasagem do combustível no mercado interno em relação ao comercializado no Golfo do México, usado como referência nas negociações no Brasil. “Havia espaço para a redução, devido à queda dos preços no mercado internacional. Do ponto de vista técnico, esse reajuste faz sentido”, afirma Sérgio Araújo, presidente-executivo da associação.

Por meio de nota, a Petrobras diz: "A redução de R$ 0,20 aplicada aos preços da gasolina comercializada pela Petrobras acompanhou a evolução dos preços internacionais de referência, que se estabilizaram em patamar inferior para este produto, e é coerente com a prática de preços, que busca o equilíbrio com o mercado global, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio".

Na comparação Preço de Paridade de Importação (PPI) dos dois combustíveis com os preços domésticos, calculada pela Abicom, a defasagem média da gasolina na quarta (20) ficou em 0%, e a do óleo diesel foi de 3%. Isso mostra que a primeira atingiu a paridade, zerando a diferença de preço em relação ao mercado internacional. O diesel teve redução da defasagem positiva, que diminuiu ainda mais ao longo da semana, chegando a 2% na quinta (21) e na sexta-feira (22).

A associação informa que, para os cálculos, são usados como referência os valores para gasolina, óleo diesel, câmbio, RVO (Obrigação de Volume Renovável) e frete marítimo, no fechamento do mercado do dia anterior.

O diesel

Se a estabilização do preço da gasolina internacionalmente contribuiu para a redução de seu valor no mercado interno, a diminuição na defasagem do diesel não teve o mesmo efeito, ainda, devido à volatilidade. "O diesel está sendo negociado nas refinarias brasileiras com valor 3% acima dos preços internacionais, sendo possível uma redução de preços nas refinarias brasileiras da ordem de R$ 0,14 por litro", avalia Araújo.

Para ele, a Petrobras deve aguardar uma maior estabilização do mercado externo, talvez até a metade da próxima semana, para, então, se decidir pela redução. "Hoje, a possibilidade de uma pequena diminuição no preço do diesel vendido aqui existe, mas é preciso ter muita cautela. Eles não podem se antecipar e, depois, voltar atrás. Ainda há muita incerteza por causa da crise do fornecimento de gás pela Rússia para a Europa", explica o presidente da Abicom.

Apesar de não confirmar, a Petrobras também não descarta uma queda no preço desse combustível: "Com relação ao diesel, é importante esclarecer que cada produto derivado do petróleo possui mercado e dinâmica de valorização próprios, de acordo com seus balanços de oferta e demanda global. Dessa forma, a Petrobras segue monitorando o mercado e, por questões concorrenciais, não pode antecipar suas decisões sobre manutenção ou reajuste de preços".

Para Luciano Losekann, professor de economia e coordenador do Grupo de Energia e Regulação da UFF (Universidade Federal Fluminense), as decisões que envolvem o diesel exigem maior cuidado da petrolífera. "É um produto que a gente precisa importar mais, a participação das importações na oferta doméstica é maior, e o mercado está curto, a demanda internacional também é grande. É difícil fazer uma previsão sobre a precificação da Petrobras, levando em consideração que os últimos passos nesse assunto foram influenciados por interfêrencia política", diz.

Além de estar instável fora do Brasil, o diesel tem preços mais elevados que os da gasolina no país, por ter sido menos beneficiado pelas novas medidas do governo. Já não incidiam sobre ele os impostos federais, e as alíquotas de ICMS eram menores, próximas ou abaixo dos percentuais adotados para os produtos essenciais (entre 10% e 18%, dependendo do estado). Depois dos cortes das taxas estaduais, a queda nas bombas foi de apenas 1,2%.

Risco de desabastecimento

A alta demanda internacional pelo óleo diesel pode ser vista como um problema de segurança, segundo Losekann. "O governo tem falado sobre estoques reduzidos. No mundo todo, há países revendo seus estoques, alguns passaram por desabastecimento, outros estão preocupados com suprimentos. No nosso caso, seria interessante manter a paridade internacional, para estimular a importação e evitar a redução de estoques", avalia o professor.

Araújo, da Abicom, diz que entre 25% e 30% do diesel consumido no Brasil vem de fora, o que faz o país ser dependente da importação. "A partir de setembro, também há um movimento maior, é a época de transporte mais intenso de safra, e a disponibilidade do combustível fica baixa", diz.

Para ele, o governo está atento aos estoques. "Não acredito em um desabastecimento generalizado. Pode ser que ocorra em um ou outro porto, por alguns momentos, mas vai ser uma coisa pontual", afirma o presidente-executivo da Abicom.

O preço do óleo diesel, que teve alta de 14,26% em junho, e chegou a ser vendido pela Petrobras a R$ 5,61 por litro, fez com que o valor dos fretes dos transportes rodoviários também subisse, na comparação entre maio de 2021 e de 2022. "Já está acontecendo um repasse do aumento dos custos para o preço dos fretes, porém, ainda de forma lenta. A previsão é que essa tendência siga nos próximos meses”, diz Bruno Hacad, diretor de operações da Fretebras, plataforma online de transporte de cargas, que viabiliza a contratação de motoristas autônomos por transportadoras.

Segundo o IFPF (Índice Fretebras do Preço do Frete), calculado com base nos dados da plataforma, o preço por quilômetro por eixo rodado de carregamentos de arroz, por exemplo, teve alta de 8,11% naquele mês, passando de R$ 0,90, em 2021, para R$ 0,98, em 2022. O valor do frete do feijão subiu 13,02%, passando de R$ 0,81 para R$ 0,91. Isso tem impacto no preço de quase todos os produtos de consumo, que dependem do transporte rodoviário para ir para as indústrias e chegar aos supermercados e lojas.

Valedoitaúnas (R7)



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