Dependentes químicos entregavam dinheiro que ganhavam a pastor
26 de outubro de 2023Dependentes químicos faziam serviços foram da clínica e tinha que entregar mais da metade do dinheiro que ganhavam ao pastor responsável
Foto: Reprodução
Uma investigação da Superintendência do Trabalho no Rio, Polícia Federal e Ministério Público Trabalho aponta que dependentes químicos acolhidos em uma casa de reabilitação ligada a uma igreja evangélica foram obrigados a trabalhar em diferentes estabelecimentos de bairros da Zona Oeste da cidade.
Os internos do local também eram obrigados a fornecer mais da metade do valor que recebiam pelo trabalho ao pastor da igreja Alcance Vitória, responsável pela clínica, ou ofertado em dízimo à instituição religiosa, que fica em Paciência.
Segundo um documento da superintendência, os sete resgatados eram “escravos de ganho“: quando as vítimas são obrigadas a realizar serviços fora da casa onde moram e entregar o dinheiro que ganham, ficando apenas com uma pequena parte. Muitas vezes, em vez de um dinheiro, os trabalhadores recebiam tinta para pintura das casas onde moravam, ou carne e salsicha para comer.
Eles ainda eram obrigados a frequentar os cultos da igreja.
Resgate de dependentes químicos
A região onde está localizada a casa de reabilitação é dominada pela milícia. O resgate dos internos aconteceu em agosto deste ano e, conforme os órgãos, durante a fiscalização, milicianos foram até o local para saber mais sobre a operação.
No momento do trabalho dos auditores fiscais, havia escolta da Polícia Federal, o que inibiu a ação dos criminosos. Homens armados já foram vistos no sítio onde funciona a clínica.
O resgate foi realizado por auditores-fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, uma procuradora do Ministério Público do Trabalho e policiais federais da Delegacia de Defesa Institucional.
A igreja Alcance Vitória é ligada à Victory Outreach Church, que tem igrejas em várias cidades do mundo. No site da igreja, aparecem tanto o endereço em Paciência quanto o endereço do sítio da casa de reabilitação, na rua das Amoreiras, em Cosmos. Em destaque, está o nome do pastor Jackson Sobral, responsável pela casa e que foi autuado por trabalho análogo à escravidão.
De acordo com a fiscalização e os depoimentos dos trabalhadores, o pastor mantinha a casa de apoio com o nome da igreja e era fornecedor de mão de obra a estabelecimentos da região. Os sete resgatados trabalhavam sem registro formal e dividiam metade do valor do salário com o pastor. Além disso, ainda eram obrigados a ofertar um dízimo de 10% no valor que teriam direito.
Os locais de trabalho eram três mercados em diferentes partes da Zona Oeste, além de um Sacolão em Paciência e uma fábrica de suco de laranja.
Em depoimento, um dos trabalhadores relatou que recebia R$50 por dia de trabalho, mas que o dinheiro era liberado por um monitor apenas no dia designado para fazer compras de itens básicos. Segundo ele, um dos serviços que realizava era de lixar treliças, sem nenhum tipo de equipamento de proteção e que inalava os resíduos do processo.
O mesmo trabalhador afirmou que