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Crianças aprendem em escola improvisada em antigo curral

09 de junho de 2025

Escola improvisada funciona há dois anos na zona rural de Bujari. Alunos enfrentam lama, sol, falta de estrutura e ainda ajudam a professora com a merenda e a limpeza

Crianças aprendem em escola improvisada em antigo curralNo interior do Acre, adolescentes têm aula em um curral – Foto: Reprodução/g1

Em 2025, crianças de diferentes idades seguem tendo aula em um antigo curral, na zona rural de Bujari, no Acre. O espaço improvisado, sem paredes, sem piso e sem água encanada, virou a única alternativa para manter os estudos na comunidade do Limoeiro.

Todos os dias, Janaína Costa, de 16 anos, cavalga por uma hora até chegar à escola. “Eu espero que termine a escola, que tragam transporte, né?”, diz.

A estrutura é precária. “Esse sol aqui, daqui a mais uma horinha, vai estar dando na cara de todo mundo. Porque não tem parede, né? E pra completar, não tem assoalho. É pé no chão. É terra. Se chove, mela”, explica Thiago de Andrade, de 16 anos.

A professora Graciele Amorim dá aula para turmas de diferentes séries, sozinha, nos dois turnos. Também é ela quem prepara a merenda. “Venho de manhã e só saio às cinco horas”, conta. “Chego às seis e meia”.

Kayanny de Souza, de 13 anos, vai a pé com a irmã gêmea e uma amiga. Ela varre a cozinha, lava as panelas e ainda corrige o caderno. “O recreio é isso aqui”, diz, rindo. “Lavar louça”. Ela quer ser veterinária.

A água usada na escola vem da casa de um vizinho. “Senão a gente ia ter que carregar água sabe Deus da onde”, diz Kayanny. O banheiro, construído este ano, tem uma descarga improvisada que funciona com baldes.

Segundo o governo do Acre e a prefeitura de Bujari, os alunos foram levados ao antigo curral porque não conseguiam chegar à escola-sede, a 10 quilômetros dali. A reportagem decidiu visitar a sede.

No caminho, o carro atolou duas vezes. Quando a equipe chegou, encontrou a escola fechada. Funcionários faziam limpeza. Dois dos três banheiros estavam interditados. Havia livros sujos, paredes descascadas e até um ninho de marimbondos no chuveiro.

A rede educacional nas áreas rurais do Acre é uma parceria entre estado e municípios. A coordenadora da rede, Rocilda Gomes – que é esposa do prefeito de Bujari –, afirmou que era contra a volta das aulas no anexo após as férias.

“Os pais decidiram que queriam que a aula iniciasse mesmo naquele local precário”, disse.

Ela pediu a suspensão das aulas até a conclusão de uma nova unidade de madeira, com paredes.

O secretário estadual de Educação, Aberson de Souza, prometeu uma nova escola com mais salas. “Temos um prazo de 40 dias para entrega. (...) O custo da educação no campo é muito alto”, afirmou.

Mas, por enquanto, as aulas no antigo curral continuam. “Não serão suspensas. (...) temos um calendário a cumprir. Um dia de verão é precioso, porque, no inverno, não tem aula”.

A professora Graciele resume o sentimento de quem resiste. “Meu sonho é permanecer, ser feliz e continuar trabalhando”. E completa, emocionada: “Eu sou a base aqui”.

(Fonte: g1)



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