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Coronel da PM acusado de assediar soldado virá réu pelo mesmo crime contra outra policial

11 de abril de 2022

Contra essa segunda policial militar que o denunciou, além de assédio sexual e ameaça, o tenente-coronel também se tornou réu pelos crimes de ato libidinoso e constrangimento

Coronel da PM acusado de assediar soldado virá réu pelo mesmo crime contra outra policialEx-soldado Jéssica denunciou tenente-coronel por assédio sexual, ameaças de morte e de estupro – Foto: G1 Santos

O tenente-coronel Cássio Novaes, acusado de assédio sexual e ameaças de morte contra a ex-soldado, Jéssica Paulo do Nascimento, de 30 anos, virou réu em mais um processo, desta vez pelos crimes de assédio sexual, ato libidinoso, ameaça e constrangimento contra outra policial militar. As informações constam no site do Tribunal da Justiça Militar (TJM) e a primeira audiência deste segundo caso está prevista para 5 de maio.

Segundo já apurado, esta segunda enuncia envolvendo outra soldado foi feita depois da formalização de Jéssica, mas antes da repercussão pública do caso dela. A outra soldado, que preferiu não se manifestar sobre o assunto, está lotada no 50º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), o mesmo onde o tenente-coronel atuava no período em que teriam acontecido os assédios.

Esta segunda vítima foi presencialmente à Corregedoria para formalizar a denúncia no dia 5 de abril de 2021, acompanhada de seu capitão, que prestou apoio à mulher. Ela acusa o coronel de assédio sexual e ameaças, também por mensagens de áudio e texto em aplicativo.

Conforme apurado pelo g1 no site do TJM, com relação a esta segunda soldado que o denunciou, o coronel também foi indiciado pela Corregedoria. Após a conclusão do inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra ele em 7 de março deste ano. Dias depois, a denúncia foi recebida pela Justiça, o tornando réu por quatro crimes.

Dois destes crimes constam no Código Penal comum, que são ato libidinoso sem consentimento da vítima e assédio sexual, ambos, segundo consta no TJM, teriam sido cometidos por três vezes pelo réu. Já os outros dois crimes constam no Código Penal Militar, que são ameaça e constrangimento.

A primeira audiência deste caso, que está com a 3ª Auditoria da Polícia Militar, está prevista para 5 de maio, e os crimes deverão ser julgados pelo Conselho Especial de Justiça, formado pelo juiz da Justiça Militar, que o preside, e quatro oficiais de patente superior à do acusado.

Já com relação a Jéssica, o tenente-coronel já havia se tornado réu pelos crimes de assédio sexual e ameaça, ambos praticados por diversas vezes. Jéssica foi exonerada da PM, depois de decidir deixar a carreira. Ela afirma que abandonou o cargo após sofrer pressão dentro da corporação devido à repercussão do caso.

Antes de deixar a PM, Jéssica estava lotada no 45° Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Contudo, a denúncia por assédio sexual e ameaças de morte são relacionadas à época em que ela atuava na capital paulista, contra o tenente-coronel Cássio Novaes.

Após a denúncia de assédio sexual e ameaças de morte, a ex-soldado tomou a decisão de deixar a corporação, ao ser pressionada no serviço. Entre os episódios que classifica como perseguição, estão o desarmamento dela, escalas de trabalho na rua à noite, mesmo denunciando ameaças de morte, negativa para pedidos de transferência e chantagem com as férias às quais ela teria direito. Ela afirma que foi avisada de que poderia tirar férias "depois que pedisse baixa".

O g1 tentou contato com o tenente-coronel denunciado pelos crimes, mas não obteve retorno. O oficial foi afastado do comando do batalhão onde atuava e ambos os casos seguem em segredo de Justiça.

Em nota, a Polícia Militar informa que todas as ações determinadas entre o Ministério Público e o Poder Judiciário sobre o Oficial são de responsabilidade unicamente destas esferas de poder.

Sobre a denúncia contra o tenente-coronel Cássio Novaes, as investidas pessoais do superior à então soldado Jéssica começaram em 2018, segundo ela. Ele havia acabado de assumir o comando do Batalhão da Zona Sul de São Paulo, quando passou pelas companhias para se apresentar aos policiais militares e a conheceu, chamando-a para sair assim que conseguiu ficar a sós com ela.

"Em um momento em que a gente ficou um pouco sozinho, ele assim veio em uma total liberdade, uma intimidade. Mas a gente nunca tinha se visto, né? E me chamou para sair na cara dura", relembra.

Ela disse ao superior que era casada e tinha filhos, recusando o convite. "Depois desse dia, minha vida virou um inferno", desabafa. A ex-soldado relata episódios de investidas sexuais, principalmente, por mensagens, ameaças por áudio, humilhação em frente aos seus colegas e até mesmo sabotagem quando se recusou a ceder aos pedidos do superior.

Ela ficou dois anos e meio afastada do serviço para evitar contato com ele. No entanto, a licença acabou em março e ela precisou voltar ao serviço. Ele conseguiu o telefone dela e as investidas recomeçaram, segundo ela, cada vez mais insistentes. O comandante prometia sustentar os filhos da então soldado, dar uma promoção para ela dentro da corporação e a transferência que ela queria para o litoral paulista.

Coronel da PM acusado de assediar soldado virá réu pelo mesmo crime contra outra policialEm março, comandante conseguiu o telefone da soldado e passou a enviar mensagens de cunho sexual – Foto: G1 Santos

"Eu pensei que precisava de provas, porque ele sempre ia fazer isso e ninguém ia acreditar. Entrei em contato com um advogado e ele me orientou a ver até onde ele iria, deixando ele falar", conta. "Foram coisas muito baixas. Me ameaçou de estupro e de morte".

As ameaças de morte vieram, também, por áudios. Em uma das falas, o comandante afirma que "não existe segredo entre dois, um tem que morrer" e "quem não tem problema na vida, está no cemitério".

Coronel da PM acusado de assediar soldado virá réu pelo mesmo crime contra outra policialSequência de mensagens recebidas pela soldado quando comandante descobriu que ela não iria a encontro – Foto: G1 Santos

A ex-soldado decidiu formalizar uma denúncia na Corregedoria da PM no início de abril, quando percebeu que estava sendo enganada pelo tenente-coronel. Ele havia prometido que a levaria ao Departamento Pessoal para pedir pela transferência dela quando, na verdade, o DP estava fechado e ele planejava levá-la a um hotel.

Valedoitaúnas (g1)



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