“Conluio”: direção da Abin sob Lula interferiu em investigação, diz PF
25 de janeiro de 2024Diretor da Abin de Lula não teria tido “postura esperada de delegado federal”. PF apura ação de Ramagem pró-Bolsonaro no governo passado
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
Os investigadores da Polícia Federal (PF) envolvidos na Operação Vigilância Aproximada afirmam que, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir o Planalto, a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) “realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação”. Os policiais dizem, no entanto, não ter sido possível identificar o objetivo dessa manobra.
A informação consta no mesmo relatório que autorizou operação, nesta quinta-feira (25/1), tendo como alvo o policial federal e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Ele foi diretor-geral da Abin durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e é apontado como responsável por usar a estrutura da agência em favor do ex-presidente.
No entanto, a investigação da PF aponta que a Abin teria continuado interferindo já neste governo.
Trecho de relatório que teve o sigilo levantado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), indica o seguinte: “A gravidade ímpar dos fatos é incrementada com o possível conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin, cujo resultado causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a própria instituição”.
Os policiais fizeram críticas à atuação do antigo diretor de Inteligência da PF Alessandro Moretti, que hoje ocupa o segundo cargo na hierarquia da Abin. Em reunião com investigados no caso, apontam os documentos da operação, Moretti teria dito que a apuração seria “fundo político e iria passar”.
“Não é a postura esperada de delegado”, aponta o relatório que embasou as ordens de busca expedidas pelo ministro Moraes.
Segundo o documento, a reverberação das declarações da direção da Abin “possui o condão de influir na liberdade e na percepção da gravidade dos fatos pelos investigados ao afirmar a existência de ‘fundo político’ ao declarar se tratar de ‘Politização e disputas mesquinhas de poder com a Inteligência de Estado’, em demérito à presente investigação”.
Na decisão, o magistrado afirma que a Abin, durante a gestão Bolsonaro, “teria instrumentalizado a mais alta agência de inteligência brasileira para fins ilícitos de monitoramento de alvos de interesse político, bem como de autoridades públicas, sem a necessária autorização judicial”.
Mudança no comando
Em nota, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis) defendeu que a nova operação da PF mostra a importância de ter servidores do próprio órgão em posições de comando.
“Se confirmados os ilícitos apurados, a problemática gestão da Abin por Alexandre Ramagem e seus assessores reforça a importância de a agência ser gerida por seu próprio corpo funcional, e não por atores exógenos politicamente condicionados, como no governo anterior”, escreveu a direção executiva da Intelis.
Ainda na nota, a entidade defende que os profissionais de carreira da Abin são os maiores interessados na apuração de desvios no uso de ferramentas de inteligência. Ao fim da nota, a Intelis pontua que essas ferramentas (no caso, o FirstMille) “são semelhantes às utilizadas nos sistemas de inteligência de democracias consolidadas”.
(Fonte: Metrópoles)