Confirmada vitória de Biden, que pede aos americanos que ‘virem a página’
14 de dezembro de 2020Em geral uma mera formalidade, processo de confirmação tornou-se tenso devido à recusa de Trump em reconhecer resultado
A diferença entre os candidatos ficou em aproximadamente 20 mil votos em Wisconsin – Foto: Chandan KhannaAFP
Os delegados dos 50 estados americanos ao Colégio Eleitoral confirmaram a vitória do democrata Joe Biden na eleição para a Presidência dos Estados Unidos nesta segunda-feira (14), pondo um ponto final nas tentativas do presidente Donald Trump de reverter o resultado. O processo, que geralmente é uma mera formalidade, ganhou atenção neste ano devido às ações judiciais em que o republicano contestava sua derrota com falsas alegações de fraude, o que gerou o temor de violência em estados-chave onde Biden venceu.
Biden deve fazer um discurso às 22h de hoje, no qual, segundo trechos divulgados antecipadamente, pedirá aos americanos para "virarem a página" do governo Trump e sua resistência a admitir que foi derrotado, pondo em xeque o veredicto popular e a própria democracia no país. Biden dirá: “Nós, o povo, votamos. Foi mantida a fé em nossas instituições. A integridade de nossas eleições permanece intacta. Então, agora é hora de virar a página. Para unir. Para curar".
Biden superou os 270 votos no Colégio Eleitoral, ultrapassando a metade do total de 538 delegados, pouco antes das 19h30 desta segunda-feira, quando os 55 delegados da Califórnia votaram unanimemente nele. Logo após a leitura do resultado, os delegados, reunidos na Assembleia da Califórnia, em Sacramento, explodiram em aplausos e gritos de entusiasmo.
Em todo o pais, Biden teve 306 votos no Colégio Eleitoral, contra 232 de Trump. No voto popular, Biden e sua vice, Kamala Harris, tiveram 81,6 milhões de votos, 51,3% do total e 7 milhões a mais do que Trump. O presidente eleito e sua vice têm a posse marcada para 20 de janeiro.
Durante o último mês, Trump e seus aliados travaram uma ofensiva fracassada para reverter o triunfo de Biden nos tribunais, afirmando sem qualquer embasamento terem sido vítimas de fraude eleitoral. Mais de 50 ações foram rejeitadas, mas a derrota mais significativa veio na sexta-feira, quando a Suprema Corte se recusou a examinar um processo para anular o voto popular em quatro estados-chave nos quais o democrata venceu.
Embora derrotadas na Justiça, as denúncias do presidente tiveram alta adesão entre eleitores republicanos. Com medo de violência, vários estados reforçaram a segurança dos delegados ao Colégio Eleitoral.
Em Michigan, “ameaças críveis de violência” levaram o governo estadual a fechar todos os seus prédios legislativos, incluindo o Capitólio, onde aconteceu a reunião do Colégio Eleitoral nesta segunda. Os 16 delegados do estado, entre eles um aposentado de 96 anos, tiveram escolta policial. No Arizona, o encontro aconteceu em um local não divulgado.
Em Wisconsin – onde horas antes da reunião do Colégio Eleitoral a Suprema Corte estadual rejeitou pela segunda vez neste mês uma tentativa da campanha de Trump de anular 200 mil votos – os delegados receberam novos protocolos de segurança e instruções de como deixar o Capitólio em caso de protestos. Os dez delegados, nas últimas semanas, receberam enxurradas de mensagens em suas redes sociais de eleitores republicanos pedindo para que não votassem em Biden.
Apesar das tensões em todo o país, o processo do Colégio Eleitoral ocorreu sem problemas, incluindo em estados governados por republicanos nos quais Biden venceu, como a Geórgia e o Arizona. Os governadores e funcionários eleitorais republicanos desses estados atraíram a fúria de Trump e foram alvo de ameaças de seguidores do presidente ao certificarem a vitória do democrata, no caso da Géorgia depois de duas recontagens.
“Não é apenas por tradição, mas para mostrar às pessoas, especialmente agora mais do que nunca, que nosso sistema funciona”, disse o governador Chris Sununu, de New Hampshire, um republicano, na abertura da sessão do Colégio Eleitoral, antes que os quatro delegados do estado votassem em Biden.
A secretária de Estado do Arizona, Katie Hobbs, criticou Trump:
“Embora haja aqueles que ficarão chateados por seu candidato não ter vencido, é manifestamente antiamericano e inaceitável que o evento de hoje seja algo além de uma tradição honrada e mantida com orgulho e em celebração”, afirmou.
Com a oficialização da votação no Colégio Eleitoral, resta a Trump e seus aliados contestarem o resultado em uma sessão especial do Congresso em 6 de janeiro, na qual os votos nessa instância indireta são contados e o resultado, proclamado. As chances do presidente, porém, são consideradas nulas, já que qualquer objeção teria que ser aprovada pela maioria das duas Casas legislativas, e os democratas têm a maioria da Câmara, enquanto muitos republicanos do Senado vêm instando o presidente a encerrar sua fracassada ofensiva judicial e reconhecer a vitória do adversário.
À imprensa na tarde desta segunda, a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, se recusou a responder se Trump aceitaria o resultado do Colégio Eleitoral.
Os delegados, que votam em cédulas de papel, começaram a se reunir em locais escolhidos pelos Legislativos estaduais ao meio-dia, horário de Brasília. A despeito das pressões, os delegados seguiram os votos da populações dos seus estados, sem traições, como é o costume.
Ao contrário do que acontece no Brasil, o sistema eleitoral americano é indireto. Na prática, a população vai às urnas escolher qual candidato carregará os votos de seu estado no Colégio Eleitoral, definidos de acordo com a população de cada unidade federativa. Para que seja eleito, um candidato deve ter a maioria dos 538 delegados – este número corresponde à soma dos deputados federais e dos senadores americanos.
Se o voto no Colégio Eleitoral é habitualmente simbólico, os desafios impostos por Trump à lisura do processo mudaram a lógica. Sem sucesso, o presidente chegou até a tentar convencer Legislativos republicanos a substituir delegados democratas por representantes pró-Trump em estados onde Biden venceu.
Valedoitaúnas/Informações O GLOBO