‘Cometerás adultério’: Versão da Bíblia com erro que ‘permite’ pecado é encontrada na Nova Zelândia
04 de maio de 2022Ausência de um ‘não’ na publicação inverte sentido de um dos mandamentos
Versão da Bíblia que "permite" adultério é encontrada na Nova Zelândia – Foto: Reprodução News Bulletin
Uma versão da Bíblia, publicada originalmente em 1631, foi descoberta na Nova Zelândia. O livro, contudo, contém um erro que modifica completamente o sentido de um dos mandamentos. A ausência da palavra “não” no versículo “não cometerás adultério”, o sétimo mandamento (no evangelho de Mateus, capítulo 5, versículo 27), dá uma ideia de incentivo à traição conjugal: “cometerás adultério”.
Segundo o periódico britânico “The Guardian”, os encarregados da edição, Robert Barker e Martin Lucas, que trabalhavam para o rei inglês Carlos I (1600-1949), foram multados e perderam sua licença profissional após o erro. Eles ainda teriam de pagar uma multa anual de 300 libras, mas a punição acabou anulada.
Há uma estimativa de que apenas 20 exemplares tenham sido preservados após a destruição de todas as publicações (cerca de mil exemplares) ter sido decretada pelo império. O erro na digitação só teria sido descoberto no ano seguinte.
Uma das raras cópias desta edição da Bíblia foi à leilão na Inglaterra por milhares de libras em novembro de 2015. O exemplar descoberto desta vez está na Universidade de Canterbury, em Christchurch, na Nova Zelândia. A instituição teria sido informada da existência do exemplar em 2018, mas optou por manter a descoberta em segredo até agora, para permitir que pesquisadores e conservadores de livros tivessem tempo suficiente para estudar e preservar o livro.
“É um mistério, é fascinante e deu a volta ao mundo” disse Chris Jones, professor associado de estudos medievais da universidade e membro da Sociedade de Antiquários de Londres.
Foi uma ex-aluna de Jones que levou a cópia até ele, depois que sua família a adquiriu dois anos antes, em uma venda após a morte do dono. O falecido proprietário era o encadernador britânico Don Hampshire, que se mudou do Reino Unido para Christchurch em 2009.
“Não são coisas que você simplesmente entra em um escritório depois de encontrar uma em uma garagem em Christchurch. Mas eu olhei para ela e pensei, uau, isso é exatamente o que meu ex-aluno pensa que é. É uma Bíblia Perversa. Fiquei deslumbrada com isso” contou Jones.
A cópia estava em condições relativamente ruins quando redescoberta, com defeitos na capa, alguns danos causados pela água e sem algumas páginas na parte de trás. No entanto, é uma das poucas cópias que tem tinta vermelha e preta, além de ser uma versão “mais completa” que outras, segundo a conservadora de livros e papéis Sarah Askey, que trabalhou na restauração da publicação.
Ela também documentou todos os detalhes que poderiam ajudar a fornecer pistas sobre onde o livro estava e a quem pertencia, como a presença de restos de plantas, cabelos humanos e fibras têxteis.
“Era uma coisinha estranha de se trabalhar. E havia muita solução de problemas, mas isso foi bastante satisfatório de fazer” celebrou Askey.
Valedoitaúnas (O Globo)