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Com renda de R$ 400, mãe faz curso de gastronomia para garantir segurança alimentar de nove filhos

26 de junho de 2022

Sem celular ou computador para acompanhar as aulas à distância, Vanessa dos Santos vai todos os dias para a casa do irmão, em outra cidade, onde assiste aos conteúdos

Com renda de R$ 400, mãe faz curso de gastronomia para garantir segurança alimentar de nove filhosApesar das dificuldades, a capixaba Vanessa dos Santos, de 41 anos, entrou em uma faculdade de gastronomia para garantir a boa alimentação dos filhos – Foto: Reprodução/TV Gazeta

Vanessa dos Santos, de 41 anos, e desempregada, tenta garantir a sobrevivência própria e a dos filhos, em Vila Velha, no Espírito Santo, com uma renda de R$ 400 reais e doações da igreja.

A casa onde mora com seis dos nove filhos, no bairro Jabaeté, não conta com itens básicos como geladeira e guarda-roupa, além de não ter banheiro, o que aumenta as dificuldades enfrentadas por todos eles.

"Não tem geladeira, nem guarda-roupa, nem cama, mais nada. No banheiro [do lado de fora] não tem descarga, e a gente usa a cortina quando usamos, porque não tem porta, e tomamos banho de balde", conta Vanessa enquanto segura uma das filhas no colo.

Mesmo com os problemas rotineiros, há dois anos Vanessa começou a trilhar o caminho para um sonho que pode transformar a vida de toda a família.

À distância e com uma bolsa de estudos, a capixaba está perto de se formar em gastronomia. Ela conta que decidiu fazer o curso por gostar de cozinhar, e principalmente para garantir uma boa e saudável alimentação aos filhos.

Por não ter computador ou celular, Vanessa não consegue assistir às aulas da própria casa, mas não mede esforços para seguir estudando. Todos os dias sai de Vila Velha e vai para a casa do irmão, na Serra, de onde acompanha o conteúdo do curso.

"Sempre gostei da área de cozinha. Nos empregos por onde passo, sempre busco [cozinhar], são sempre focados nesse meio, e aí veio essa oportunidade, nessa faculdade. Faço para pelo menos dar uma vida melhor para eles. Apesar de tudo estar caro, com o curso consigo dar para eles uma alimentação melhor. A gente vai aprendendo sobre bactérias também, sobre como ter um cuidado maior com toda a questão alimentar", disse Vanessa.

A fome, que atinge mais de 33 milhões de brasileiros, no entanto, não faz parte dos problemas enfrentados pela família de Vanessa.

Com o auxílio federal que recebe no valor de R$ 400 e doações da igreja, consegue garantir a alimentação dos filhos, mas o custo de vida cada vez maior pode complicar o sonho de se formar e entrar para o mercado de trabalho na área.

"Está difícil. Não está fácil, não. Há muitos anos que não passei por essa situação, e estou desempregada. O último emprego que arrumei era à noite, e eu não podia deixar as crianças. Eu tento sustentar meus filhos e concluir a faculdade, para ser uma gastronoma. A previsão para me formar é em 2023", contou Vanessa.

Extrema pobreza atinge 150 mil no ES

A linha da extrema pobreza no ES apresenta panoramas preocupantes. Cerca de 150 mil pessoas no estado vivem com menos de R$ 150 reais por mês. No Brasil, são 12 milhões nessa situação, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esses dados potencializam a insegurança alimentar, contexto no qual as pessoas não conseguem suprir necessidades e ficam sem acesso aos alimentos.

De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), divulgado no começo de junho deste ano, mais da metade da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau, que são divididos em "leve", "moderado" e "grave" (fome).

Ainda segundo a pesquisa, no que diz respeito ao contexto de insegurança alimentar o Brasil regrediu a um patamar equivalente ao da década de 1990.

Valedoitaúnas (g1 ES)



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