Com fotos de mutação em peixes, vereador Adeci busca apoio para ressarcir prejuízos com rejeitos de minérios
18 de agosto de 2022Estudo mostra danos coletivos superiores a R$ 900 milhões
Vereador Adeci de Sena – Foto: Secom/CMSM
Preocupado com os impactos dos prejuízos registrados em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, originados nos resíduos que vazaram de barragens da mineradora Samarco, o vereador Adeci de Sena está conclamando uma força-tarefa para buscar a reparação coletiva desses danos.
Em pronunciamento na Câmara Municipal, terça-feira (16), Adeci apresentou imagens chocantes de peixes com suspeitas de mutação genética em águas litorâneas de São Mateus, inclusive do Rio Cricaré, e municípios vizinhos na costa capixaba, e também de ferimentos na pele de ribeirinhos que moram no Distrito de Nativo de Barra Nova. Prejuízos podem chegar a R$ 1 bilhão.
O relato de Adeci faz parte de um levantamento que preparou para ser apresentado durante a Audiência Regional do Tribunal Popular das Regiões Sul e Sudeste, que começa nesta quinta-feira (18) e segue até sábado (19), em Jacaraípe, no município de Serra.
De acordo com o presidente da Federação das Associações de Pescadores Profissionais, Artesanais e Aquicultores do Espírito Santo, Manoel Bueno dos Santos, “o encontro tem como objetivo discutir as questões socioambientais das regiões Sul e Sudeste e os impactos diretamente na vida e no trabalho dos pescadores e das pescadoras artesanais”. Posteriormente, o resultado desse tribunal regional deve ser levado a Brasília (DF).
Na apresentação aos colegas vereadores, Adeci disse que a chegada da pluma de rejeitos de minérios trouxe grandes prejuízos coletivos a todos os mateenses, e não apenas aos ribeirinhos, principalmente pescadores e aquicultores. “Estou todo contaminado. Eu, a minha família. Tenho laudos em mãos. Todos nós estamos contaminados”, disse Adeci.
Residente na Comunidade de Campo Grande, ele salientou que, direta ou indiretamente, os mateenses convivem com contaminação de águas e também de peixes e outros frutos do mar. Adeci entende que é preciso buscar também profissionais de saúde preparados para diagnóstico especializado nos atendimentos no Hospital Estadual Roberto Silvares e na UPA 24 Horas. “Não podemos baixar a cabeça”, adverte o vereador.
Ao recordar que já havia dito que o pior estava por vir, Adeci disse que São Mateus deve estar unido nesta luta pela reparação coletiva, mobilizando vereadores, o Poder Executivo municipal e outras instituições, como o Governo do Estado e o Ministério Público. “Vamos chamar todos os secretários envolvidos”.
Em aparte, o vereador Cristiano Balanga parabenizou a luta travada por Adeci em busca de reparação coletiva para São Mateus. “Você está mostrando que os peixes estão morrendo. Se tiver que rodar o Brasil para denunciar essa situação, rode, meu amigo”, disse o líder do Prefeito na Câmara Municipal. Balanga disse ainda que é preciso levar a situação ao conhecimento do prefeito, Daniel Santana, e do secretário municipal de Meio Ambiente, Ricardo Louzada.
Assustado com as imagens de peixes e ribeirinhos com feridas na pele, e de animais mortos na faixa litorânea, o vereador Delermano Suim, segundo-secretário da Câmara, enfatizou que é preciso alertar à Vigilância Sanitária de São Mateus e do Governo do Estado para apurar os riscos de contaminação com metais pesados oriundos de barragens rompidas da Samarco. Segundo ele, análise na água de um poço artesiano no Nativo mostrou contaminação já de lençol freático. De acordo com Delermano, mateenses podem estar tomando água com alumínio, cobre e mercúrio, que são cancerígenos. “Precisamos tomar providências”, conclamou.
A primeira-secretária, Ciety Cerqueira, manifestou tristeza com os impactos ambientais e sociais que atingem São Mateus e o Espírito Santo por conta do vazamento de rejeitos de minérios de barragens da Samarco. De acordo com ela, o resultado é a destruição do maior recurso hídrico dos capixabas, além da morte de comunidades tradicionais e de danos às cidades.
Paulo Fundão: estudo indica prejuízos acima de R$ 900 milhões
Os prejuízos da Samarco no município de São Mateus podem chegar a R$ 1 bilhão. Em extenso estudo elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde e enviado ao vereador Paulo Fundão, a conta já está em R$ 914 milhões. E o presidente da Câmara ressalta que essa conta pode aumentar ao incluir novos dados apresentados pelo colega Adeci de Sena.
“A Samarco tem que pagar pelo dano e pelo mal gerado por erros deles”, disse Paulo Fundão. O presidente explicou que, pela complexidade do estudo, ainda precisa aprofundar a análise. “É importante pegar esses dados que você tem, Adeci, e enviar ao secretário de Saúde”, comentou.
Paulo Fundão quer ampliar o diálogo envolvendo também o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), o Ministério Público Federal (MPF) e o secretário de Meio Ambiente, “para que possamos buscar o ressarcimento desses prejuízos ao município de São Mateus referentes a Samarco”.
Adeci de Sena acrescentou que estão sendo reunidas novas provas, por uma comissão de atingidos, e sugeriu ainda atrair pesquisadores e estagiários especializados para elaboração de projetos que minimizem os prejuízos decorrentes da contaminação por rejeitos de minérios escoados das barragens da mineradora Samarco.
Valedoitaúnas