Com falta de insumos, mais de 3 mil testes para covid-19 aguardam processamento no ES
21 de maio de 2020Por causa da falta de material para a realização do exame PCR, o tempo de resposta no Lacen, que era de até 36 horas, agora pode chegar a oito dias
Foto: Governo do ES
A falta de insumos para o processamento dos exames de biologia molecular, o chamado RT-PCR, para detecção do novo coronavírus tem provocado atraso nas análises feitas no Laboratório Central do Estado (Lacen-ES). Nesta quinta-feira (21), cerca de 3 mil testes estavam na fila de espera, aguardando processamento.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o acúmulo de exames fez com que o tempo de resposta passasse de 24 a 36 horas para até oito dias.
"Temos a dificuldade da oferta de um dos componentes do processo de testagem, que é o kit de extração, o que levou há pouco mais de três semanas a um atraso na entrega dos exames do Lacen. O que nós fizemos foi priorizar os exames do Hospital Jayme Santos Neves, do Dório Silva, do Hospital Central, de grandes hospitais de referência, para que esses exames dos pacientes graves não tivessem atrasos", afirmou o secretário de Saúde do Estado, Nésio Fernandes.
Atualmente, o Lacen processa entre 480 e 600 testes por dia, mas tem capacidade para fazer mil exames. Diante da falta de insumos, a Sesa vai recorrer a laboratórios da iniciativa privada.
"Para poder mandar toda a carga de quase 3 mil testes que estão para análise no Lacen, para que eles possam ser testados rapidamente e que o Lacen dê conta então dos exames que chegam todos os dias. Aproximadamente de 480 a 600 amostras chegam diariamente ao Lacen e é uma quantidade de amostras totalmente dentro da capacidade de testagem do nosso laboratório", frisou o secretário.
Quem tem sofrido com a demora para a divulgação do resultado do teste é o técnico de enfermagem André da Silva Oliveira. Ele atua no Hospital Estadual de Urgência e Emergência, em Vitória, e, após sentir os sintomas da covid-19, foi submetido ao teste de biologia molecular. No entanto, quase duas semanas depois, ainda não recebeu o resultado.
"Procurei de novo a UPA e pedi à médica o encaminhamento para fazer o teste rápido, porque a Vigilância não tinha ligado para mim nenhuma vez para saber como eu estava. Ela me encaminhou e eu peguei esse encaminhamento, fui no posto de saúde aqui do bairro Jardim Carapina, onde eu fiz o teste na terça-feira e o meu teste deu positivo. E até hoje a Vigilância não me ligou para falar do meu resultado do swab e nem para saber como eu estava", relatou.
Já Renata Ribeiro, que está desempregada, disse que apresentou sintomas da covid-19 recentemente, mas sequer foi submetida ao teste para confirmar o diagnóstico. O motivo é que ela não preenche os critérios da Secretaria de Saúde do Estado para aplicação dos testes de biologia molecular: não foi internada em estado grave e, mesmo com comorbidades, ainda não passou dos 45 anos.
Ela conta que sofre de uma doença pulmonar crônica, que enrijece as paredes dos pulmões, e também tem diabetes, o que a torna mais vulnerável ao novo coronavírus. Os sintomas já desapareceram, mas Renata diz que nem mesmo a bombinha que usa todos os dias para tratar a fibrose pulmonar foi capaz de combater a falta de ar.
"Pensei que eu não fosse suportar por causa da falta de ar. A minha bombinha normalmente eu uso uma ou duas vezes ao dia, e eu estava usando cinco, seis vezes de uma vez só e a falta de ar não estava passando totalmente. Estava bem complicada ainda, mesmo assim", contou.
Renata disse que procurou atendimento médico, mas voltou para casa sem a certeza do que tinha. "Fui para a UPA de Carapina, porque era mais próxima da minha casa e eu estava bem ruim. Cheguei lá, a médica fez exames clínicos em mim. Ela chamou uma outra médica, mas nenhuma das duas conseguiram dizer se era ou não era covid. Falaram que podia ser um período de instalação e pediram para eu manter a quarentena. E eu vim para casa sem fazer nenhum teste para covid", completou.
"É importante essa testagem para conhecer, realmente, dessas pessoas doentes quem, de fato, tem a covid-19. Uma coisa importante de entender é que, mesmo que o RT-PCR seja negativo, você pode estar com a doença, dependendo da etapa em que você colheu o exame. Então existe a coleta preferencialmente entre o quarto e o sétimo dia de sintomas, que tem a maior probabilidade do exame do swab nasal resultar positivo", explicou a infectologista Filomena Alencar.
Testes rápidos
Outra forma de identificar quem já foi infectado são os testes rápidos de detecção de anticorpos contra a covid-19. A primeira fase do Inquérito Sorológico, encerrada na última sexta-feira (15), apontou que mais de 80 mil habitantes do Espírito Santo já contraíram o novo coronavírus.
"Se eu tivesse possibilidade de ter número de teste para todo mundo da fase aguda, seria uma beleza, mas não tem. No mundo inteiro, ninguém tem. Para testar para a população geral, você fazer um rastreamento para identificar quantas pessoas já se infectaram, o teste rápido resolve isso. Você pode fazer como a gente está fazendo no inquérito sorológico. A gente pode rastrear a população, numa amostra significativa, e você ter a possibilidade de identificar pessoas que já se infectaram, para ter noção de quantas faltam infectar e como eu posso elaborar as medidas", destacou Filomena Alencar.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou as drogarias a ofertarem esse tipo de testes. No entanto, de acordo com o Conselho Regional de Farmácia do Espírito Santo (CRF-ES), nenhum desses estabelecimentos tem realizado exames rápidos de anticorpos até o momento no estado.
A produção da TV Vitória/Record TV entrou em contato com as principais redes de farmácia que atuam no Espírito Santo, para saber se elas pretendem comercializar esses produtos. A Santa Lúcia informou que está se estruturando para isso e deve começar a vender testes rápidos em junho. A Drogasil, por sua vez, disse que estuda o tema e está em busca de fornecedores que disponibilizem testes precisos.
Já a Rede Farmes informou que não vai ofertar testes rápidos em suas farmácias. A Pague Menos não deu retorno até o momento. A produção também procurou as redes Pacheco, Mônica e Cibien, mas não conseguiu fazer contato.
Valedoitaúnas/Informações Folha Vitória