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Cientistas alertam para distúrbios cerebrais em casos de Covid-19

12 de julho de 2020

Cientistas alertaram os médicos de que eles podem não estar diagnosticando uma série de distúrbios cerebrais ligados ao novo coronavírus

Cientistas alertam para distúrbios cerebrais em casos de Covid-19Pesquisadores tentam entender se Covid-19 pode causar danos cerebrais – Foto: Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Complicações neurológicas graves – que incluem inflamação, psicose e delírio — foram descobertas em 43 casos de pacientes com Covid-19 por pesquisadores da University College London (UCL).

Indivíduos sofreram com problemas variados, como distúrbios cerebrais, derrames, danos centrais ao nervo e outros efeitos graves no cérebro, segundo a pesquisa.

O estudo publicado na revista científica Brain também revela um aumento nos casos de uma condição conhecida como encefalomielite aguda disseminada (Adem, na sigla em inglês). Esse aumento coincidiu com a primeira onda de casos de Covid-19 no Reino Unido, em março deste ano.

O número de casos aumentou de uma média de um por mês para um por semana. A Adem pode ser provocada por uma infecção viral como o novo coronavírus.

"Se vamos ter uma epidemia de grande escala de danos cerebrais ligados à pandemia (de Covid-19) – talvez parecida com o surto de encefalite letárgica dos anos 1920 e 1930 depois da pandemia da gripe espanhola de 1918 – ainda não sabemos dizer", diz Michael Zandi, do Instituto de Neurologia da UCL.

Cientistas não encontraram traços de Covid-19 no líquor, o fluido corporal presente no cérebro. Isso sugere que o vírus não ataca diretamente o cérebro. Eles especulam que o dano cerebral seria causado pela resposta do sistema imunológico ao novo coronavírus.

"Dado que o coronavírus só está aí desde poucos meses, não temos ainda noção sobre os danos de longo prazo que ele pode causar", diz o médico Ross Peterson, da UCL, que também participou da pesquisa.

"Os médicos precisam estar cientes dos possíveis efeitos neurológicos, já que o diagnóstico precoce pode melhorar o resultado para os pacientes".

Cientistas ainda tentam entender o impacto que a Covid-19 pode ter no cérebro.

Outro estudo recente identificou danos cerebrais em 125 pacientes que estiveram em estado grave por conta do novo coronavírus. Quase metade deles havia sofrido derrame devido a algum coágulo que se formou. Outros apresentaram inflamação cerebral, psicose e sintomas de demência.

Um dos autores do estudo, o professor Tom Solomon, da Universidade de Liverpool, disse à BBC que está claro que existe uma relação entre o vírus e os danos cerebrais.

"Parte é devido à falta de oxigênio no cérebro. Mas parece haver muitos outros fatores, como problemas de coagulação e uma resposta híper-inflamatória do sistema imunológico".

No Canadá, o neurocientista Adrian Owen lançou um estudo global para tentar determinar como o vírus afeta a cognição.

"Nós já sabemos que os sobreviventes de UTIs estão vulneráveis para danos cognitivos", disse.

"Então com o número de pessoas recuperadas de Covid-19 crescendo, está ficando cada vez mais nítido que mandar as pessoas da UTI para casa não é o final da história para essas pessoas. É só o começo das suas recuperações".

Michael Zandi, da UCL, diz que também havia ligações entre danos neurológicos e doenças como a Sars e a Mers. Mas no caso da Covid-19 isso está acontecendo em uma escala muito maior.

O mais parecido com a situação atual, segundo Zandi, foi o surto de uma doença misteriosa logo após a pandemia de gripe espanhola, em 1918.

A doença conhecida como encefalite letárgica apareceu no mundo naquela época e afetou mais de um milhão de pessoas. Há poucas pistas sobre as causas da doença e sobre a possibilidade de a influenza ser o gatilho para ela.

A doença causava problemas motores semelhantes ao Mal de Parkinson e uma espécie de coma.

O correspondente médico da BBC, Fergus Walsh, diz que é importante não se traçar comparações exageradas entre a Covid-19 e a gripe espanhola de 1918. Mas no caso desses sintomas de problemas neurológicos, será necessário estudar mais os impactos de longo prazo da doença no nosso cérebro.

Valedoitaúnas/Informações iG



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