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Cidade nos EUA está sendo “engolida” pela terra: Entenda como é possível

07 de junho de 2021

Cidade nos EUA está sendo “engolida” pela terra: Entenda como é possívelCorcoran, no estado da Califórnia, passa por um processo de afundamento há anos – Foto: Reprodução/City of Corcoran

Uma pequena cidade agrícola nos Estados Unidos está afundando. Corcoran, no estado da Califórnia, localizada entre Los Angeles e São Francisco, passa por um processo de afundamento chamado de "Corcoran Bowl", que chega a se estender por 96 quilômetros e se assemelha ao formato de uma tigela, com as bordas mais elevadas e centro mais retraído.

Segundo a Nasa, o município de pouco mais de 20 mil habitantes já foi "engolido" mais de 3,50 metros ao longo dos últimos 14 anos nas áreas mais afetadas. Nas duas próximas décadas, a previsão da agência é de que esse processo continue, com afundamento entre 1,85 e 3,35 metros.

O problema acontece pelo uso intenso de água pela indústria agrícola da região. Quando os rios e canais não fornecem água suficiente, as fazendas da região começam a bombear água excessivamente de reservatórios subterrâneos, que ficam logo abaixo do Corcoran, para irrigar as plantações, a partir de poços que têm até 762 metros de profundidade.

Após décadas e décadas de bombeamento – um relatório da Nasa de 2017 aponta que esse processo começou na década de 1920 —, o solo está começando a desmoronar e se compactar.

A situação se agrava ainda mais em períodos de secas prolongadas, como a ocorrida entre 2012 e 2016, quando as terras da região, no centro da Califórnia, registraram altas taxas de afundamento.

De acordo com Jay Famiglietti, um ex-cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, e agora diretor do Instituto Global de Segurança da Água da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, hoje não há nada que possa ser feito para contornar a situação.

"Esse formato de tigela que foi criado a partir do bombeamento é grande e pode ser por isso que as pessoas não percebam o problema. Mas uma análise cuidadosa descobriria que há muita infraestrutura potencialmente em risco", disse em entrevista ao "New York Times".

Foi Famiglietti quem ajudou a descobrir o problema e alertou sobre graves afundamentos na área com base em imagens de satélite desde 2009. Os cientistas passaram anos rastreando afundamentos lá e em outros lugares no vale de San Joaquin usando radar e tecnologia de satélite.

Cidade nos EUA está sendo “engolida” pela terra: Entenda como é possívelDesde a década de 1920, o bombeamento excessivo de água subterrânea em milhares de poços no vale de San Joaquin, na Califórnia, fez com que as áreas do vale diminuíssem – Foto: Nasa-JPL/Caltech/ESRI

As consequências

Além da alteração na paisagem da cidade, essa subsidência (movimento da superfície, no caso) também danifica a infraestrutura. O município teve, por exemplo, que instalar três estações elevatórias para bombear água pelos diques, logo que o afundamento fez com que a água, que costumava correr apenas com a força da gravidade, ficasse acumulada em vez de fluir.

Foram gastos US$ 1,2 milhão (ou R$ 6,08 milhões na cotação atual) em 10 anos nesses equipamentos, pagos pelos fazendeiros, segundo a reportagem do "New York Times".

Além disso, revestimento de poços de água potável foram destruídos, zonas de inundação mudaram e o dique da cidade teve que ser reconstruído por US$ 10 milhões (R$ 50,07 milhões), aumentando as contas de impostos sobre a propriedade dos moradores em cerca de US$ 200 (R$ 1.014) por ano durante três anos. O dique tinha afundado de 59 metros quando foi construído em 1983 para 57 metros em 2017. Alguns moradores também foram forçados a comprar seguro contra inundações pela primeira vez.

Para Karla Nemeth, diretora do Departamento de Recursos Hídricos do estado da Califórnia, o bombeamento excessivo de água subterrânea e seu efeito em Corcoran são questões que merecem um olhar mais atento. "A situação de Corcoran é a amostra absoluta de que o bombeamento não gerenciado de água subterrânea é inaceitável na Califórnia e do que isso gerou", afirmou.

Valedoitaúnas/Informações UOL



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