Chefe da CIA teve reunião secreta com líder do Talibã em Cabul
24 de agosto de 2021William Burns se encontrou com Mullah Abdul Ghani Baradar na segunda-feira (23) na capital do Afeganistão, revelou o jornal 'The Washington Post'. CIA se recusou a comentar o assunto
O diretor da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos), William Burns, se reuniu secretamente no Afeganistão com Mullah Abdul Ghani Baradar, um dos cofundadores do Talibã e chefe político do grupo extremista, segundo o jornal "The Washington Post" – Foto: Montagem G1/Reuters
O diretor da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos), William Burns, se reuniu secretamente no Afeganistão com Mullah Abdul Ghani Baradar, um dos cofundadores do Talibã e chefe político do grupo extremista.
A informação foi revelada pelo jornal "The Washington Post" e depois noticiada pelo "The New York Times", a rede de televisão CNN e outros veículos de comunicação americanos.
A reunião ocorreu em Cabul na segunda-feira (23) e é o maior encontro entre o governo Joe Biden e o Talibã desde que o grupo extremista tomou a capital afegã e voltou ao poder após 20 anos.
Procurada pelo jornal, a CIA se recusou a comentar a reunião com o Talibã. Segundo o "The Washington Post", Burns é o diplomata mais condecorado do gabinete de Biden.
Baradar liderou o acordo de paz do Talibã com os EUA, durante o governo Donald Trump, e também negociava um cessar-fogo com o antigo governo afegão, antes da sua queda.
Ele havia sido preso em 2010 em Karachi, no sul do Paquistão, e foi libertado em 2018, a pedido de Trump, para participar das negociações de paz.
Ironicamente, Baradar ficou preso por oito anos após uma operação conjunta entre a CIA e o governo paquistanês.
O cofundador do Talibã era próximo ao líder supremo do grupo extremista, Mohammad Omar, que o governo afegão disse ter matado em 2013 e o grupo extremista diz que morreu em 2015.
Baradar lutou contra as forças soviéticas durante a ocupação do Afeganistão, na década de 80, e foi governador de várias províncias na década de 90, quando o Talibã governou o país pela primeira vez.
Saída do Afeganistão
O acordo de paz, assinado pelo governo Trump e o Talibã em fevereiro de 2020 em Goha, no Catar, previa a retirada das tropas americanas e de países aliados em maio deste ano.
Biden manteve o acordo, mas adiou o fim da missão para 31 de deste mês – e agora é pressionado por aliados a adiar novamente a saída do Afeganistão, apesar do alerta do Talibã.
Reino Unido, França, Alemanha e outros países dizem ser necessário mais tempo para evacuar seus cidadãos e afegãos que trabalharam para esses países e têm sido alvos do Talibã.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, afirmou ao jornal "Bild" que não é possível retirar todas as pessoas necessárias até o dia 31: "Mesmo alguns dias a mais, não será suficiente".
Mas um porta-voz do Talibã advertiu que os EUA cruzarão uma "linha vermelha" se mantiverem as tropas além do prazo, prometendo "consequências".
Talibã de volta ao poder
O cofundador do grupo extremista voltou ao Afeganistão na terça-feira (17), após mais de dez anos no exílio.
Foi a primeira vez que um líder talibã do alto escalão retornou publicamente ao país desde 2001, quando foram expulsos pelos EUA após os atentados do 11 de Setembro.
O grupo extremista foi retirado do poder pelos EUA por esconder e financiar membros da Al-Qaeda, grupo terrorista comandado por Osama bin Laden e responsável pela queda das Torres Gêmeas e o ataque ao Pentágono.
Governo talibã
O Talibã comandava o Afeganistão desde 1996, adotando uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica (sharia) e impondo restrições sobretudo às mulheres, que eram impedidas de trabalhar e estudar.
As visões islâmicas ultraconservadoras incluíam apedrejamentos, amputações e execuções públicas e a proibição de músicas, filmes e até a televisão.
O grupo extremista voltou ao poder no Afeganistão no domingo (15), após o presidente Ashraf Ghani fugir do país e o Talibã tomar a capital Cabul e o palácio presidencial.
Valedoitaúnas (G1)