Casal troca metrópole por vida na roça em Minas Gerais, e não se arrepende
28 de junho de 2021Fernanda e Emiliano no Sítio Alto da Cascavel, em Minas Gerais: mudança de vida durante a pandemia – Foto: Emiliano Capozoli Mari Campos
A pandemia da covid-19 mudou drasticamente o dia a dia de todo mundo. Trabalho, casa, família, relacionamentos; tudo passou por profundas transformações nestes mais de 15 meses de pandemia. Mas para algumas pessoas tais restrições acabaram provocando uma mudança completa de estilo de vida de forma bastante positiva.
É o caso do fotojornalista Emiliano Capozoli e da estilista Fernanda Formigari. O casal, ex-urbanoide de carteirinha, transformou as restrições da pandemia (e a diminuição brusca de trabalho no período) no empurrãozinho que faltava para se mudarem para a região rural próxima a Gonçalves, MG, levando uma vida realmente sustentável.
Tempo de mudanças
O Sítio Alto da Cascavel, onde vivem e trabalham atualmente, fica na cidade de Córrego do Bom Jesus, a 170 km de São Paulo. A "vida na roça", como eles mesmos dizem, tem sido absolutamente satisfatória até agora.
Vista da região e da casa para alugar no Sítio Alto da Cascavel – Foto: Emiliano Capozoli
A transformação pessoal deu tão certo que Emiliano e Fernanda resolveram dividir um pouco de seu novo cotidiano com viajantes em busca de sustentabilidade e turismo de isolamento. Construíram também no sítio uma casa, a Morada Alto da Montanha Cascavel, comercializada através de plataformas de aluguel de temporada.
Mudanças da pandemia impulsionaram a mudança de vida
"Com a chegada da pandemia, surgiu a ideia de fazermos um rancho de madeira no sítio para montar nossa barraca de camping dentro. Depois resolvemos fazer uma cabana de madeira para realmente morar ali. E os planos foram crescendo", explicam.
No início, apenas local para armar as barracas, mas o projeto foi ganhando forma – Foto: Emiliano Capozoli
Entendendo que a pandemia não iria acabar tão cedo, resolveram pensar em maneiras de trabalhar com coisas da região. Após longas pesquisas, decidiram construir um espaço confortável e sustentável para alugar para turistas em busca de segurança e turismo de isolamento.
O casal sempre pensou em trabalhar com produtos orgânicos, sustentabilidade e bioconstrução, mas tinha zero conhecimento na área. A experiência em lidar com turistas também era pequena. Pré-pandemia, Emiliano alugava quartos na sua casa em São Paulo e o casal tinha um projeto comum chamado Cozinha Sem Muros, no qual abriam a cozinha da casa todo mês para um refugiado apresentar sua cultura por meio da comida a desconhecidos.
Emiliano e Fernanda em frente à casa que desenharam, construída com mão de obra e materiais locais – Foto: Emiliano Capozoli
Hoje, são grandes entusiastas do novo estilo de vida. "Aqui eu sinto que a natureza é muito mais forte do que nossos problemas. Somos algo tão pequeno perto dessa imensidão toda", explica Fernanda. E Emiliano concorda: “Sentimos que estamos fazendo mais parte de um grande todo, e com qualidade de vida superior".
A propriedade de 37 mil m2 fica a 2h30 de São Paulo, tornando relativamente fácil o casal se deslocar eventualmente para trabalhos específicos e consultas médicas, por exemplo.
Da vida corrida para um ambiente essencialmente rural: um desafio – Foto: Emiliano Capozoli
“Claro que nem tudo são flores. A adaptação de uma vida extremamente corrida em uma megalópole para uma vida em um bairro rural tem também choques socioculturais".
"Aqui vivemos eu, a Fernanda, a Biriba (a cachorra), as vacas do vizinho e os pássaros. Às vezes ficamos meio malucos também", brinca Emiliano.
Sítio sustentável
O casal desenhou absolutamente tudo da casa. Partindo sempre do princípio da sustentabilidade, utilizaram mão de obra, peças de demolição e materiais da região, e construíram um sistema solar de aquecimento de água.
"Nossa ideia foi mesclar sustentabilidade, conforto e isolamento em um cenário indescritível a 1.500 m de altitude. Para nós, ser sustentável é mais do que uma ideia; é um estilo de vida e dá mesmo um pouco mais de trabalho", afirma Emiliano.
Vista área da região e da casa, construída com o princípio da sustentabilidade – Foto: Emiliano Capozoli
Recuperaram e protegeram a nascente de água local, fazendo cursos sobre o assunto e acertando detalhes com profissionais especializados. A cabana onde vivem é toda de madeira e nela construíram um biodigestor para o esgoto seguindo orientações da Embrapa. O resíduo final aduba a agrofloresta e a plantação de café orgânico que criaram.
Detalhe do plantio de café orgânico que estão desenvolvendo – Foto: Emiliano Capozoli
Com os aquecedores solares de água, oferecem água quente em todas as torneiras – com água potável, direto da mina do próprio sítio. O lixo orgânico é utilizado na horta orgânica, que produz parte dos alimentos que Emiliano e Fernanda consomem no dia a dia.
Neste meio tempo, criaram um projeto de reflorestamento do terreno e já plantaram mais de 200 árvores. Recentemente, inauguraram também um viveiro e estão estudando a criação de um corredor verde entre dois resíduos de mata habitados por macacos Sauá (para evitar que eles andem pelo chão ou pela cerca de arame, diminuindo a vulnerabilidade dos animais enquanto se deslocam).
O casal no viveiro de mudas onde germinam árvores nativas para reflorestamento – Foto: Emiliano Capozoli
A Morada Alto da Montanha Cascavel
A sustentabilidade da cabana onde vive o casal foi totalmente reproduzida na casa construída para aluguel de temporada. Além disso, todas as amenidades oferecidas aos hóspedes são invariavelmente produzidas na região, veganas, cruelty-free e zero plástico.
“Sempre tivemos como base o que gostaríamos de encontrar em uma hospedagem caso nós fôssemos os viajantes".
Na casa de aluguel, são oferecidos itens produzidos na região – Foto: Emiliano Capozoli
O casal oferece também aos hóspedes a possibilidade de viver essa "experiência de roça" durante a estadia, se desejarem. É possível, por exemplo, ajudar na colheita de tomates ou pinhão, no manejo do café, no corte de lenha para a fogueira ou até na ordenha das vacas do vizinho.
“Estamos colhendo frutos de um novo estilo de viver: isolado, protegendo a natureza, aprendendo muito sobre o cio da terra e querendo passar isso para outras pessoas".
Os hóspedes que desejarem, podem fazer atividades da rotina da roça – Foto: Arquivo pessoal
Até hoje, todos os hóspedes da Morada Alto da Montanha Cascavel (em geral, casais jovens com cachorros ou filhos pequenos) deram 5 estrelas ao casal e ao imóvel. O visual de tirar o fôlego e a segurança e isolamento em tempos de pandemia são sempre mencionados.
Mas não poupam também elogios à maneira com que a casa foi projetada, dando total protagonismo à vista panorâmica para as montanhas, da banheira à beira da janela à cama virada para uma porta balcão de onde se vê o sol nascer.
Vista aérea da propriedade, com a casa principal e a de hóspedes – Foto: Emiliano Capozoli
A fisioterapeuta Bruna Shcarlack Vian, de Campinas (SP), descreveu sua estadia: "Queríamos um lugar bem tranquilo, longe de aglomerações, próximo da natureza. Escolhemos a Morada pelas fotos da vista maravilhosa, com aquele mar de montanhas. E tanto nossa experiência quanto a vista superaram todas as expectativas", afirma.
Vista da Morada Alto da Montanha Cascavel durante o nascer do sol Imagem: Emiliano Capozoli
Valedoitaúnas/Informações UOL