Café produzido no Espírito Santo é um dos mais raros e caros do mundo
10 de outubro de 2022O quilo pode chegar a custar R$ 1.200 no Brasil
Café produzido com grãos extraídos das fezes do pássaro Jacu está entre os mais caros do mundo – Foto: Divulgação
Você já deve ter escutado falar que para todo problema existe uma solução, não é mesmo? Partindo desse pressuposto, o empresário capixaba Henrique Sloper produz um dos cafés mais caros e raros do mundo na Fazenda Camocim, em Domingos Martins, no Espírito Santo. O café é um dos mais exóticos e caros do mundo porque passa por um processo de produção mais do que inusitado: ele é produzido com grãos extraídos das fezes de um pássaro ameaçado de extinção e nativo da Mata Atlântica, o Jacu.
Existe um motivo para que a produção do café seja feita desta forma. Tudo começou quando os pássaros nativos atacavam os cafezais para se alimentar dos frutos antes mesmo da colheita na Fazenda Camocim, em Domingos Martins.
Os ataques dos jacus às lavouras eram frequentes. As aves sempre comiam os melhores frutos e completamente maduros. Com a produção prejudicada, o empresário Henrique Sloper encontrou uma solução para o problema a fim de diminuir os prejuízos e aumentar a lucratividade da fazenda.
Henrique Sloper – Foto: Divulgação
Ele se inspirou na produção do café Kopi Luwak, considerado o mais caro do mundo, cultivado na Indonésia. O café por lá também é exótico porque os grãos são extraídos das fezes do animal que os consome, o mamífero Civeta.
Desde então, o proprietário não parou de estudar até encontrar a fórmula perfeita de como aproveitar os grãos selecionados pelo pássaro jacu para produzir o exótico café – que tem produção exclusiva no Espírito Santo.
A produção do café jacu é limitadíssima, são colhidos de três a quatro toneladas de café por ano. A título de comparação, a Fazenda Camocim como um todo produz 180 toneladas.
Por causa da sua qualidade e quantidade limitadas, o preço do quilo do café no Brasil varia em torno de R$ 1.200, enquanto em Londres o quilo pode chegar a custar R$ 6 mil. A produção é exportada para vários países e pode ser encontrada nas melhores cafeterias do mundo.
Sloper conta que, ao contrário do café produzido no Sudeste Asiático, o “Jacu Bird Coffee” tem um processo de produção muito menos agressivo.
“Na propriedade em Domingos Martins o pássaro fica livre pela fazenda, sem qualquer controle artificial, sendo um processo diferente da Indonésia. Aqui virou uma área de reprodução de pássaros, eles vem na época do inverno para se reproduzirem o que acaba coincidindo com a mesma época do café ter a sua maturação”, destacou.
Para termos ideia da veracidade dos fatos, Sloper solicitou ao Ibama uma vistoria na propriedade para verificação da inexistência de maus tratos aos animais silvestres. Na ocasião, foi constatado que as aves tem livre acesso e, deste então, o produto pôde ser exportado para Londres após a apresentação do relatório de vistoria.
Pássaro está na lista de aves ameaçadas de extinção
Pássaro Jacu – Foto: Ricardo Cozzo
O pássaro jacu está na lista de espécies ameaçadas de risco de extinção elaborada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Para evitar a extinção das espécies de aves, Henrique Sloper defende que o investimento no sistema de plantio de agroflorestas é a solução definitiva.
O modelo de agrofloresta associa a preservação ambiental e produtividade na lavoura com a produção de alimentos e plantação de árvores na mesma área de cultivo. Além do café, a propriedade também tem plantação de frutas tropicais produzidas de forma orgânica e sem o uso de agrotóxicos.
“O jacu é um pássaro brasileiro que está em perigo de ser extinto, o maior inimigo dele é o homem. A espécie prefere um local que tenha alimentação à vontade e tranquilidade para morar, se alimentar e construir ninhos. Isso tudo ele encontrou em nossa agrofloresta produtiva”, disse Henrique.
A iniciativa do reflorestamento das árvores na propriedade começou em 1962 com Olivar Araújo, superintendente do Grupo Casa Sloper e pioneiro na produção de cafés orgânicos nessa região do Espírito Santo. Durante 30 anos, replantou árvores, protegeu nascentes e recuperou o solo na propriedade.
Sloper destaca que cada vez mais o consumidor está em busca de produtos mais sustentáveis, confiáveis e orgânicos na hora de decidir por uma compra.
“Está em constante crescimento a consciência sobre a produção agrícola sobre os produtos mais sustentáveis e é esse caminho que estamos seguindo. O jacu é fruto disso, ele existe porque temos uma agrofloresta produtiva”, afirmou.
Valedoitaúnas (Agro Business)