Brasileiras criam pomada natural para curar feridas de diabéticos
11 de fevereiro de 2020O medicamento feito com óleo da erva baleeira se mostrou eficaz na cicatrização de feridas de portadores da diabetes – doença que gera altos índices de amputações de membros no país
Professora Thais fazendo a extração do óleo da erva baleeira que é utilizado na pomada cicatrizante –Foto: Divulgação
O Brasil é o 4º país do mundo em incidência de diabetes: 16 milhões de pessoas sofrem com a doença por aqui, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A dificuldade do pâncreas em produzir insulina suficiente causa diversas consequências à saúde, como glicemia alta, sede, problemas na visão e dificuldade para cicatrizar machucados.
Tratamentos eficazes contra a doença e seus sintomas são foco de muitos estudos científicos. É o caso de uma pesquisa da Universidade Positivo, no Paraná, que desenvolveu uma pomada feita com óleo da erva baleeira para curar ferimentos de diabéticos. A enfermidade é a principal causa de amputações de membros em todo o mundo.
As orientadoras Thais Casagrande e Leila Maranho, junto com a aluna de mestrado Jéssica Martim, começaram a estudar a Cordia verbenacea, conhecida como erva baleeira ou maria-milagrosa, pois o avô diabético de Jéssica fazia um chá com as folhas para ajudar na cicatrização. Ao estudarem a planta – que pode ser encontrada ao longo da restinga do litoral brasileiro –, elas viram que seu óleo poderia ser aplicado diretamente nos ferimentos, em forma de pomada.
Para testar a descoberta, as pesquisadoras utilizaram ratos de laboratório, que tiveram diabetes induzido. As cientistas fizeram pequenos machucados nos roedores e os dividiram em dois grupos: um que utilizaria a pomada e outro que não usaria tratamento algum.
As cobais foram observadas durante 18 meses de estudo, e os resultados surpreenderam: os animais tratados com a pomada apresentaram melhora na lesão apenas com oito dias de tratamento. Após 15 dias, a ferida já tinha fechado quase totalmente. “A cicatrização fica linda. Sem quaisquer problemas”, diz Maranho. As cientistas afirmam que a pomada não causa dor, ardência ou formigamento, nem tem cheiro forte.
"Importante ressaltar que o trabalho foi aprovado previamente pelo Comitê de Ética em Uso de Animais em Pesquisa da Universidade Positivo e seguiu as recomendações do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) para garantir toda cautela e cuidados éticos com os animais”, disse Thais, em nota à imprensa.
A maior dificuldade do estudo, no entanto, não foi observar a eficácia do óleo. A extração da Cordia verbenácea precisa da autorização de órgãos ambientais, porque é uma vegetação protegida. Além disso, a colheita deve ser feita no período certo para que os princípios ativos sejam preservados. No caso, o local escolhido foi São Francisco do Sul, em Santa Catarina.
O próximo passo das pesquisadoras é patentear o medicamento e tentar que alguma empresa farmacêutica se interesse em comercializá-lo. “A pomada vai ser boa não só para quem tem diabetes, ela pode ser usada em qualquer pessoa, sem qualquer restrição", ressalta Jéssica. Ela também acrescenta que o produto poderia ser mais barato em relação aos que existem no mercado atualmente – e que preservar a erva baleeira é essencial. "As pessoas devem cultivar mais dessa planta para preservar a espécie”, recomenda.
Valedoitaunas/Informações/Revista Galileu