Brasil vive militarização, mas Bolsonaro não ameaça democracia, diz FHC
23 de abril de 2020Em videoconferência, tucano afirma que atual presidente dá maus exemplos por falar mais do que pensa
Fernanddo Henrique Cardoso disse que Brasil vive militarização – Foto: Reprodução/IstoÉ
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta quinta-feira (23) que não acredita que o presidente Jair Bolsonaro tenha um plano para acabar com a democracia no Brasil. Em videoconferência promovida pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o tucano disse que o país está passando por um processo de militarização, mas que não crê no interesse de Bolsonaro em acabar com a democracia. Segundo ele, "queiramos ou não", os militares têm um papel importante, "por falta de força do presidente e demais políticos".
"Estamos vendo uma militarização. Não creio que exista um programa nas Forças Armadas para acabar com a democracia. Não é isso. Não acho nem que o presidente queira. Ele fala às vezes coisas. Fala mais do que pensa, sempre. É preciso dar esse desconto", afirmou o ex-presidente.
Para FHC, há falta de força do presidente e dos demais políticos e, por isso, os militares ganham espaço.
"É fraqueza do presidente, fraqueza política. E também fraqueza dos políticos, que não aparecem com capacidade espontânea de atuar", disse ele, que descarta qualquer movimento para tirar Bolsonaro do poder ao mesmo tempo em que defende novamente a necessidade de "paciência histórica" para que as regras sejam mantidas.
"Derruba o presidente como? E põe quem? O que ele fez? Errou? Uns acham que sim, outros acham que não. Não está claro que tenha havido uma infringência de uma regra constitucional. Continuamos tendo liberdade. Ele dá maus exemplos? No meu modo de viver, dá maus exemplos”, disse Fernando Henrique.
"Não votei no presidente Bolsonaro, mas não é por isso que vou jogar pedra o dia todo nele", completou.
Desconforto na Câmara
Fernando Henrique afirmou não apreciar as "richas crescentes entre instituições" que estão acontecendo no Brasil, como as acusações mútuas recentes entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
"O presidente da Câmara está emburrado com o presidente da República e vice-versa. O presidente do Senado (Davi Alcolumbre) é um pouco equilibrado. O presidente do Supremo também disse", Fernado Henrique.
De acordo com o tucano, o Brasil vai demorar dois ou três anos para sair da crise provocada pelo coronavírus. Disse que o país precisa de ajuda internacional. Destacou que Bolsonaro chegou ao poder com a ideia de fazer um programa econômico ortodoxo, mas, na sua opinião, será obrigado a gastar dinheiro. Lembrou também que o o governo federal tem, nesse momento de crise, a vantagem de poder imprimir dinheiro enquanto a moeda tem valor.
Na visão de Fernando Henrique, a doença mostra que o Brasil não cuidou da condição de vida dos mais pobres e escancara a desigualdade social. Ele defendeu a necessidade de uma renda básica universal.
Valedoitaúnas/Informações iG