Brain Rot: de cérebro podre para mente renovada
09 de dezembro de 2024Célio Barcellos – Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Na última segunda-feira (2) a Universidade de Oxford na Inglaterra divulgou a palavra do ano após pesquisa com 37 mil pessoas.
Em virtude do excesso de vídeos desprovidos de conteúdos na internet, a palavra escolhida é “Brain Rot” (Cérebro Podre). O termo não é novo, pois Henry Thoreau o utilizou pela primeira vez em 1854 em sua obra Walden.
Os responsáveis pela pesquisa chegaram a conclusão de que a grande quantidade de vídeos sem nenhum sentido e o período de tempo desperdiçado em mídias sociais tem provocado prejuízo mental nas pessoas.
Seguindo tal lógica e após refletir nesta informação, e também perceber a perda dos milhões de leitores Brasil afora, que inclusive tem resultado no fechamento de várias livrarias, decidi escrever este texto.
Em virtude disso, o texto para a reflexão tem que ver com a Bíblia Sagrada. É bem provável que uma pessoa não religiosa e desprovida de fé não se agrade muito em função da citação bíblica, mas gostaria que essa pessoa deixasse suas pressuposições de lado e pensasse na Bíblia como um livro de riqueza literária.
Ademais, a Bíblia é uma literatura clássica. Ou melhor, é o clássico dos clássicos. Da mesma forma que você valoriza autores como Homero, Platão, Virgílio, Luis de Camões e até mesmo os autores clássicos brasileiros, encare os autores bíblicos como pessoas que cavaram fundo na busca por informações para a transmissão do texto.
Como resultado, o texto escolhido é Romanos 12:1-2, em que está escrito: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformais-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus“.
Esse texto, escrito há 2 mil anos é fantástico, pois nos incentiva a mantermos os pensamentos para coisas elevadas. É o que os pensadores medievais tinham em mente ao escrever, pois a meditação na pesquisa os conduziam para a contemplação de conhecimentos mais profundos.
Em virtude de ser um texto clássico, foi necessário realizar uma busca no texto original grego para melhor compreensão e também dizer para você leitor, que, se queremos os nossos pensamentos longe das distrações e limpo da sujeira que constantemente está diante dos nossos olhos, é preciso valorizar ideias complexas e evitar o foco somente em conteúdos simples e até mesmo sem nenhum valor.
Assim, você verá em instantes termos gregos com as respectivas transliterações para facilitar a leitura e pronúncia, bem como as declinações em que se encontram.
Quem dera os gestores públicos do país se preocupassem em educar as pessoas! Certamente, o latim, o grego, o inglês, o espanhol e outros idiomas conforme demanda não seriam vistos como desnecessários, mas como ferramentas indispensáveis para a formação do cidadão brasileiro.
Se porventura, algum conhecedor do grego perceber falhas na exposição de significados dos termos no texto, fique à vontade para fazer observações, pois cursei apenas dois níveis dessa língua fantástica, que é a avó do nosso querido português.
Pois bem, vamos lá! Do texto em questão, escolhi as seguintes palavras: “conformeis“; “transformai-vos“; “renovação“; “experimenteis” e “vontade“.
Quando você lê a sua Bíblia no vernáculo português, você tem uma versão da Bíblia. As palavras a seguir são da versão portuguesa Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, mas os termos gregos, do Novo Testamento em grego.
- “conformeis“, do grego συσχηματί????εσθε [suschēmatizeste] é uma declinação no presente passado imperativo 2ª pessoa do plural que vem do verbo συσχηματί????ω [suschēmatizo] que significa moldar de acordo com, conformar-se; assimilar-se; encontrar-se. É assumir a forma de outro padrã É migrar de um patamar inferior para coisas mais elevadas. É não estar satisfeito com o que é oferecido para você.
- “transformai-vos“, do grego με????αμορ????οῦσθε[metamorfoste] um verbo declinado no presente imperativo 2ª pessoa do plural, quem vem de με????αμορ????όω[metamorphoō] e significa: “mudar a forma externa; transfigurar; mudar de forma, ser transfigurado (Mt 17:2; Mc 9:2); passar por uma transformação espiritual (Rm 12:2; 2Cor 3:18)”. De acordo com (Moo, 2023) a indicação do tempo presente mostra “que a renovação da mente é um processo contínuo” e que o Apóstolo Paulo realça “a necessidade de trabalharmos constantemente em nossa transformação”. Essa transformação tem que ver com a consciência moral. É a santificação que provoca o rompimento dos costumes impróprios para uma transformação interior.
- “renovação”, do grego ἀ????ακαι????ώσει[anakainosei] também é um verbo que se encontra no dativo singular feminino, vem de ἀ????ακαι????όω = revigorar, renovar (2Cor 4:16; Col 3:10. o dativo grego equivale ao objeto indireto. É algo que expressa interesse pessoal. Indica a pessoa ou objeto que recai o benefício ou prejuízo de uma ação. O dativo responde à pergunta: “A quem…? ou “Para quem…?”. Ou seja, você é transformado para que objetivo? Neste sentido, a mente renovada e passa para o domínio do Espírito Santo.
- “experimenteis“, do grego, δοκιμά????ει????[dokimazein]- declinação que consta no infinitivo do presente da voz ativa e vem de δοκιμά????ω [dokimazō]= testar (1Pd 1:7); provar, tentar, examinar, escrutinar (Lc 14:19); Pôr à prova (Hb 3:9); aprovar após julgamento, julgar digno; escolher (Rm 14:22); decidir após exame, julgar, distinguir, discernir (Lc 12:56; Rm 2:18). O sentindo do infinitivo grego nesta palavra é o indivíduo por si mesmo experimentar o resultado da busca, da escolha, do discernimento. Neste caso, o discernimento do que é a vontade de Deus.
- “vontade“, do grego θέλημα [télema] = nominativo singular neutro = vontade, inclinação (1Cor 16:12; Ef 2:3; 1Pd 4:3); resolução (1Cor 7:37); propósito, projeto(2Tm 2:26); prazer soberano, ordem (Mt 18:14; Lc 12:17); se Deus quiser ou permitir (Rm 1:10). O nominativo em grego é quando o substantivo desempenha o papel de sujeito da oração. Neste caso, “vontade” está diretamente ligada à transformação que ocorre na mente para a livre escolha de fazer o que é
Portanto, se queremos uma mente mais saudável e propositiva para coisas elevadas, devemos abandonar o lixo que nos cerca para que o mesmo não invada a nossa mente. E nesse ínterim, investir o nosso tempo em ótimas leituras fará uma grande diferença para a memória. E lembre-se: a renovação completa da mente vem através do Espírito Santo e isso exige de nós uma postura mais submersa na busca e não o contentar-se com o superficial.
REFERÊNCIAS
Aland, Barbara; Aland, Kurt; Karavidopoulos, Johannes; Martini, Carlo M., e Metzger, Bruce M., The Greek New Testament. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil. 4ed., 2008.
Moo, Douglas J., Romanos: Comentário Exegético. São Paulo: Vida Nova, 1ed., 2023. p. 928.
Nichol, Francis D., Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí,SP: Casa Publicadora Brasileira, 1ed., Vol. 6, 2014, p.678
Rega, Lourenço Stelio e Bergamann, Johannes, Noções do Grego Bíblico: Gramática fundamental. São Paulo: Vida Nova, 2004.
Mounce, William D., The Analytical Lexicon To The Greek New Testament. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1993.
Wiersbe, W. W., Comentário Bíblico Expositivo. Santo André, SP: Geográfica. 1ed., Vol. 5, 2012, p. 723,724.
*Célio Barcellos é teólogo, jornalista e natural do município de Conceição da Barra-ES. Atualmente reside no estado de São Paulo - email: [email protected]