Bolsonaro exonera Pedro Guimarães; Daniella Marques assume a Caixa
29 de junho de 2022Funcionárias do banco denunciaram Guimarães por assédio sexual
O presidente Jair Bolsonaro e Pedro Guimarães e o agora ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães – Foto: Igo Estrela/Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro (PL) exonerou, na noite desta quarta-feira (29), o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. O ato foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).
O decreto mostra que a exoneração ocorreu “a pedido” de Guimarães. Na mesma publicação, o chefe do Executivo federal nomeou Daniella Marques para assumir o comando do banco público. Ela era secretária de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia e considerada o “braço direito” do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A demissão de Guimarães ocorre um dia após a coluna do jornalista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar que o agora ex-presidente da Caixa é acusado por um grupo de funcionárias do banco de assédio sexual (leia mais abaixo). O caso é investigado, sob sigilo, pelo Ministério Público Federal.
Após a revelação do caso, Guimarães conversou ao menos duas vezes com Bolsonaro. Uma noite de terça-feira (28), no Palácio da Alvorada, e outra na manhã desta quarta-feira (29), no Palácio do Planalto.
Exoneração publicada no Diário Oficial
Uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU) foi publicada no início da noite desta quarta-feira (29). A saída de Pedro Guimarães aparece como exoneração “a pedido”, o que confirma que o economista pediu demissão ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na mesma publicação, a nomeação de Daniella Marques Consentino também foi oficializada para a posição de presidência da Caixa, conforme antecipado pela coluna Igor Gadelha. Considerada o “braço direito” do ministro Paulo Guedes, ela comanda, desde fevereiro de 2022, a Secretaria de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia.
Exoneração
Edição extra do DOU oficializa mudança
Denúncias de assédio sexual
Um grupo de funcionárias decidiu romper o silêncio e denunciar as situações pelas quais passaram. Todas elas trabalham ou trabalharam em equipes que servem diretamente ao gabinete da presidência da Caixa.
Cinco concordaram em dar entrevistas para o colunista Rodrigo Rangel, desde que suas identidades fossem preservadas. Elas dizem que se sentiram abusadas por Pedro Guimarães em diferentes ocasiões, sempre durante compromissos de trabalho.
As mulheres relatam toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis com o que deveria ser o normal na relação entre o presidente do maior banco público brasileiro e as funcionárias sob seu comando.
A iniciativa dessas mulheres levou à abertura de uma investigação, que está em andamento, sob sigilo, no Ministério Público Federal.
Carta de demissão
Na tarde desta quarta, Pedro Guimarães escreveu uma carta na qual nega as denúncias, ressalta conquistas durante sua gestão e diz prezar pela “garantia da igualdade de gêneros” e pela “liderança feminina em todos os níveis da empresa”.
Ele estava à frente do banco desde o início do governo Bolsonaro, em 2019. A investigação corre sob sigilo no Ministério Público Federal (MPF). Depois de as denúncias virem a público, a presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministra Ana Arraes, também determinou que a corte fiscaliza os mecanismos de “prevenção e combate” ao assédio existente na Caixa Econômica Federal.
Veja a íntegra da carta:
À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:
A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.
Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.
Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.
Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 – Great Place To Work®️, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.
Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.
Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.
As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.
Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.
Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.
Pedro Guimarães
Valedoitaúnas (Metrópoles)