Aspartame tem ‘potencial cancerígeno’, mas há limite aceitável para consumo diário, dizem OMS e FAO
15 de julho de 2023Adulto com 70 kg precisaria consumir mais de 9 a 14 latas de refrigerante diet com aspartame por dia para exceder a ingestão diária aceitável, segundo comitê de especialistas da FAO/OMS
Aspartame é um dos adoçantes artificiais mais comuns – Foto: Shutterstock
Dois órgãos ligados à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) anunciaram nesta quinta-feira (13) que o aspartame, um dos adoçantes artificiais mais comuns do mundo, é "possivelmente cancerígeno, segundo evidências classificadas como "limitadas", mas apontaram que há limite aceitável para ingestão diária.
Quem aponta potencial cancerígeno? Citando "evidências científicas limitadas", a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), que faz parte da OMS, diz que a substância é potencialmente carcinogênica.
Quem aponta que há limite aceitável de uso? O Comitê Misto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA, na sigla em inglês).
Qual o limite seguro para consumo? A ingestão diária aceitável de 40 mg/kg de peso corporal. Por exemplo, com uma lata de refrigerante diet contendo 200 ou 300 mg de aspartame, um adulto pesando 70 kg precisaria consumir mais de 9 a 14 latas por dia para exceder a ingestão diária aceitável.
"As avaliações sobre o aspartame indicaram que, ao mesmo tempo em que a segurança não é uma grande preocupação em relação às doses geralmente usadas, efeitos potenciais descritos precisam ser investigados por mais e melhores estudos", disse Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS.
Branca ressaltou ainda o esforço da ciência no combate ao câncer, que é uma das principais causas de morte no mundo. "Todo ano, uma a cada seis pessoas morrem da doença. A ciência está continuamente avançando no sentindo de avaliar os potenciais fatores causadores de câncer na esperança de reduzir esses números e as perdas humanas", afirmou.
Desde 1981, o JEFCA afirma que o consumo de aspartame é seguro dentro dos limites diários aceitos. O aspartame é usado em produtos como refrigerantes dietéticos. De acordo com alguns estudos, cerca de 95% dos refrigerantes carbonatados (bebidas efervescentes não alcoólicas) que contêm adoçante usam aspartame.
Como é no Brasil
???? No Brasil, um informe técnico da Anvisa sobre a substância publicado em 2020 (e atualizado em 2021) não cita nenhuma correlação do aspartame com o câncer.
O texto ressalta que o aspartame vem sendo objeto de extensa investigação científica, incluindo estudos experimentais, pesquisas clínicas, estudos epidemiológicos e de exposição e vigilância pós-mercado.
"Existe um consenso entre diversos comitês internacionais considerando o aspartame seguro, quando consumido dentro da ingestão diária aceitável", diz o informe.
Uso de aspartame
Bebidas como refrigerantes podem, em alguns casos, ter aspartame; Pepsico deixou de usar a substância em 2020 – Foto: Blake Wisz/Unsplash
O aspartame tem sido estudado por anos. No ano passado, uma pesquisa observacional feita na França com 100 mil adultos mostrou que pessoas que consumiam grandes quantidades de adoçantes artificiais – incluindo aspartame – apresentavam risco ligeiramente maior de ter câncer.
Outra pesquisa feita pelo Instituto Ramazzini, na Itália, no início dos anos 2000, relatou que alguns tipos de câncer em camundongos e ratos estavam ligados ao aspartame.
No entanto, o primeiro estudo não conseguiu provar que o aspartame causou o aumento do risco de câncer. Além disso, questões foram levantadas sobre a metodologia da segunda pesquisa, inclusive pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos.
O uso do aspartame é autorizado em todo o mundo por reguladores que revisaram todas as evidências disponíveis.
Os principais fabricantes de alimentos e bebidas defendem o uso do ingrediente há décadas. A Iarc disse que avaliou 1.300 estudos em sua revisão de junho.
No mês passado, a OMS publicou diretrizes aconselhando os consumidores a não usar adoçantes sem açúcar para controle de peso.
As diretrizes causaram furor na indústria de alimentos, que argumenta que os produtos podem ser úteis para consumidores que desejam reduzir a quantidade de açúcar na dieta.
(Fonte: g1)