Após ataque em Aracruz, atirador guardou armas, almoçou e seguiu para casa de praia com os pais, diz polícia
28 de novembro de 2022Ataque foi na última sexta-feira (25) em Coqueiral de Aracruz
Armas usadas por adolescente em ataque a escolas em Aracruz, ES – Foto: Reprodução/TV Gazeta
Durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (28) para detalhar o andamento das investigações sobre o ataque as escolas de Aracruz, no Espírito Santo, a Polícia Civil informou que o assassino de 16 anos guardou as armas, almoçou e seguiu para a casa de praia com os pais depois de invadir as duas escolas.
Ao todo, quatro pessoas morreram e mais de 10 ficaram feridas. O ataque teve início por volta de 9h30 e o adolescente foi apreendido por volta de 14h10. Segundo o superintendente de Polícia, o delegado João Francisco Filho, do ataque até a prisão, o criminoso agiu naturalmente.
"[Após o ataque] ele volta para casa em Coqueiral, pega todos os objetos que usou na ação e guarda para que os pais não desconfiem que ele tinha usado. Coloca tudo onde estava e fica no interior da casa como se nada tivesse acontecido. Os pais chegam e ele reage naturalmente", contou o delegado.
A polícia ainda contou que os pais comentaram com o filho sobre o ataque e que ele agiu naturalmente. Em seguida, foi com eles até a casa de praia, onde em seguida foi preso.
Selena Sagrillo, Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amos, vítimas do ataque a escolas em Aracruz – Foto: Reprodução/TV Gazeta
Atirador diz que não escolheu vítimas
De acordo com a polícia, as investigações preliminares mostram que o atirador não teria escolhido as vítimas, mas feito disparos aleatórios.
"Ele disse que escolheu aleatoriamente as vítimas, como a primeira sala era a dos professores, foi a sala que ele teve acesos mais fácil", conta o delegado.
De acordo com o delegado André Jareta, na sala dos professores, ele descarregou a arma duas vezes. "Ele já entra na sala dos professores atirando, esgota as munições que tinha, sai da sala, troca de carregador. Volta para a sala dos professores e descarrega a arma novamente", diz.
Das quatro mortes, três foram de professoras baleadas na ação. Entre as cinco pessoas ainda hospitalizadas, três são professoras. Apesar da fala do atirador de que não teria escolhido as vítimas, a polícia informou que vai aprofundar as investigações para entender se houve alguma motivação.
Pai PM vai ser investigado pela corporação
Após o adolescente ter confessado o crime, a polícia disse que ele foi à casa da família com os agentes e apontou onde estavam as armas e a roupa que usava.
O armamento era do pai, um policial militar. Segundo a polícia, uma delas, de registro pessoal, estava em uma caixa trancada com cadeado no quarto do casal, e a segunda, escondida em uma gaveta, coberta por roupas. A polícia apura como o adolescente teve acesso a elas.
Desde o crime, a polícia traz questionamentos sobre o acesso e habilidade de manuseio do armamento pelo adolescente. Nesta segunda-feira (28), a PM informou que vai abrir processo disciplinar para investigar a conduta do pai do atirador.
"Está sendo instaurado hoje um procedimento administrativo para apurar as circunstâncias nas quais o autor teve acesso às duas armas dele, uma da corporação e uma de registro pessoal, além das balas", informou o subcomandante da Polícia Militar, coronel Sérgio Pereira Ferreira.
Os pais do adolescente vão prestar depoimento à polícia nesta segunda-feira.
Simpatizante do nazismo
No dia do crime, o suspeito usava uma roupa com estampa militar e símbolos nazistas. De acordo com a polícia, em seu depoimento ele confessou ter proximidade com ideias nazistas. Apesar de ter negado que teve ajuda de terceiros na ação, a polícia disse que investiga se há envolvimento ou participação em grupos extremistas que possam ter ajudado ou incentivado ao ataque.
O celular do assassino foi apreendido e tem ordem judicial para passar por perícia, o que deve acontecer nos próximos dias.
Pai de vítima de ataque fala pela primeira vez
O pai da menina Selena Sagrillo, morta no ataque a escolas em Aracruz, no Espírito Santo, o represente comercial Érick Serafim Zuccolotto, falou neste domingo (27) pela primeira vez sobre o ataque e disse em um vídeo que o mínimo que a família vai buscar é Justiça. Além de Selena, outras três pessoas morreram e 13 ficaram feridas.
"O mínimo que a gente vai buscar agora é Justiça. Ele claramente tinha muito ódio no coração e isso não é algo que surge da noite pro dia. Além de tudo, ele planejou, foi frio até na hora de confessar o crime", disse o representante comercial.
No mesmo vídeo, Érick disse que a família vai entrar com um processo contra o pai do assassino, que é policial militar.
O representante comercial também falou sobre a dor da perda da filha.
"Já desabei várias vezes. Desde sexta-feira (25), sobrou só um vazio dentro de mim. Não estou vendo a hora passar. Estou parado olhando pro nada o dia inteiro. Uma dor absurda", declarou o pai de Selena.
Na foto, Selena Sagrillo aparece ao centro, entre pai e mãe – Foto: Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto/Arquivo pessoal
Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto, mãe da menina Selena Sagrillo, divulgou, na noite deste sábado (26), uma carta em que compartilha o sofrimento pela perda da menina e pede amor, piedade e segurança para crianças. A mãe de Selena também disse que perdeu a filha para o ódio.
O ataque deixou quatro pessoas mortas e mais de 10 feridas. O assassino, um adolescente de 16 anos, foi apreendido horas após o crime.
Polícia investiga participação de outras pessoas em ataque
Selena Sagrillo, Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amos, vítimas do ataque a escolas em Aracruz – Foto: Reprodução/TV Gazeta
Em depoimento à polícia, o atirador disse ter agido sozinho no crime, mas a polícia investiga o envolvimento de outras pessoas. A informação foi dada pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), neste domingo (27).
"Ele disse que agiu sozinho, mas isso não é suficiente para a polícia. A polícia vai de fato fazer toda a investigação técnica", informou Casagrande.
Entre os pontos investigados estão o acesso e habilidade com armas, saber dirigir e ter acesso ao carro. Além do envolvimento com grupos extremistas. No dia do crime, ele usava vestimentas com um símbolo nazista.
"A investigação que vai dizer como ele com 16 anos tinha tanta habilidade com armas e como ele conseguiu carregar e recarregar", disse o governador.
A polícia apura se há envolvimento do pai, policial militar, já que as armas usadas no ataque são dele. "A PM está sim no processo de investigação, mas é a Polícia Civil que vai dizer se de fato teve cumplicidade", disse o governador. Ele não informou se o PM já foi ouvido pela polícia.
Casagrande ainda disse que a polícia apreendeu o telefone e o computador do assassino para apurar se ele tinha relação com grupos extremistas.
"Nós temos acesso ao seu telefone, aos seus computadores, aos interrogatórios, então é um processo de investigação pra ver se ele tinha algum envolvimento com algum grupo de fora neonazista".
De acordo com a Polícia Civil, o assassino que atacou as duas escolas, por ter 16 anos, vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas. O número é menor que o de vítimas no ataque porque algumas não foram baleadas, mas se feriram na correria dos alunos em fuga.
Homenagem a vítimas
indígenas, membros de várias igrejas e religiões, além de amigos e familiares participaram na manhã deste domingo (27) de uma homenagem às vítimas dos ataques.
Imagens da homenagem mostram que o grupo percorre o trajeto entre as duas escolas cantando e fazendo orações.
Quatro pessoas morreram no ataque que aconteceu na sexta-feira (25). As vítimas são a estudante Selena Sagrillo, de 12 anos, e as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos de 48 anos, Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos e Flávia Amboss Merçon Leonardo.
Os corpos de Selena e Maria da Penha foram enterrados no início da tarde de sábado. Já a família de Cybelle preferiu que o corpo dela fosse cremado e levado para Pernambuco, onde a família mora. A professora Flávia morreu neste sábado (26) e foi enterrada neste domingo (27) em um cemitério na Serra.
O ataque
O ataque a duas escolas deixou quatro mortos e outros 12 feridos em Aracruz, nesta sexta-feira (25). A investigação apontou que o ataque foi planejado por dois anos e que o criminoso usou duas armas do pai, um policial militar. O assassino tem 16 anos e estudou até junho no colégio estadual atacado, segundo o governador do estado, Renato Casagrande (PSB).
Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município. Aracruz, onde o ataque aconteceu, fica a 85 km ao norte da capital.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o assassino invadiu a escola estadual com uma pistola e fez vários disparos assim que entrou no estabelecimento de ensino. Depois, foi até a sala dos professores e fez novos disparos. Na unidade, duas professoras foram mortas.
Na sequência, o atirador deixou o local em um carro e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, que fica na região. Na unidade, uma aluna foi morta. Após o segundo ataque, o assassino fugiu em um carro. Ele foi apreendido ainda na tarde de sexta.
Neste sábado, a Polícia Civil informou que o criminoso vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas.
(Fonte: g1 ES)