Amigos filmam jovem tomando banho e caso vai parar na delegacia
15 de fevereiro de 2020Eles chegaram a dizer que era uma "brincadeira"
Caso serve de alerta a homens que fazem imagens de mulheres sem autorização – Foto: Divulgação
Imagine só você tomando banho, achando que a sua intimidade está preservada, mas há alguém de longe, te observando. E o que é pior, gravando o seu banho.
Foi o que aconteceu com uma jovem que esta semana fez uma denúncia à Delegacia da Mulher.
Os cinco rapazes envolvidos chegaram a dizer a amigos em comum, que havia sido uma “brincadeira”. No entanto, ao saber das medidas legais que ela adotou, o grupo engrossou o tom. Eles disseram que isso teria acontecido “porque ela não se deu ao respeito”.
Uma das mães dos meninos, que ficou sabendo do ocorrido se manifestou. Ela disse que tanto o filho quanto a jovem, não deveriam terminar uma amizade que vinha desde à infância por conta da tal “brincadeira”.
Novo crime
Delegado diz que é crime gravar e/ou compartilhar vídeo íntimo sem autorização da vítima – Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)
Mas o titular da Delegacia da Mulher de Várzea Grande, Claudio Alvares Santana, é enfático: “não importa qual a situação. Quem faz o vídeo da mulher em um momento íntimo, ou compartilha, sem a sua autorização, está cometendo um crime”.
Segundo o delegado, houve uma atualização do Código Penal que trata do registro não autorizado da intimidade sexual, previsto agora, no artigo 216-B.
“O registro de cena de nudez, de caráter privado está passível à penalidade, entre 6 meses a 1 ano de detenção. Que sirva de alerta para quem apenas pensar em tomar essa iniciativa”, explica Claudio.
Segundo ele, a partir da denúncia da jovem será instaurado um procedimento investigativo para descobrir quem foi o autor do vídeo e quem foi o criador de um grupo de WhatsApp onde o vídeo dela foi compartilhado.
Vídeo compartilhado noWhatsApp
A jovem contou que depois de passar o ano novo com a família foi chamada pelos amigos para passar o dia 1º de janeiro com eles. Ela foi até lá, eles beberam, comeram e tomaram banho de piscina.
“E então eu fiquei com um menino que era amigo deste grupo de amigos meus. Dois deles conheço desde que tinha uns 13 anos”, diz a jovem de 20.
Nós sempre saímos juntos, eles nunca fizeram nada que me deixasse em alerta. Sempre foram muito respeitosos, nos divertíamos muito, foi uma surpresa para mim”.
De tarde, depois que o moço com quem havia ficado tinha ido embora, já cansada chamou um amigo para descansar. Neste momento, as amigas haviam saído com um deles para ir a uma lanchonete.
“O celular dele estava na cama e aproveitei pra mandar uma mensagem para outro amigo e resolvi digitar meu nome na busca do WhatsApp só para ver se havia algo sobre mim no celular dele”.
Caso rivalizou nas redes sociais
Foi quando ela uma conversa em que amigos comentavam sobre um vídeo. O assunto girava em um grupo nomeado ‘Macaquiada’. “Não sei se é pelo fato de eu ser negra, mas estava assim. Lá, encontrei meu vídeo e comentários machistas”.
O vídeo de 8 segundos foi gravado do alto de uma janela do banheiro social utilizada para entrar iluminação no banheiro da suíte que ficava dividido por uma parede e a entrada de luz.
Na mesma hora ela se distanciou do amigo que ficou bravo por ela ter mexido no celular dele.
“Liguei para minhas amigas na mesma hora e elas já voltaram para me buscar. Fomos para casa de outra amiga. Eu estava com medo de falar sobre isso em casa. Graças a Deus que minha mãe entendeu, mas se eu contasse para minha avó, certamente que ela ia questionar porque eu estava junto a aqueles homens. Mas pensei que fossem meus amigos”.
Ao confidenciar a uma amiga que mora no Rio de Janeiro, esta, que tem número considerável de seguidores, expôs a situação. “Na hora fiquei chateada, mas depois com a reação deles, não me importo mais. Mas para mim, ficou difícil viver aqui em Cuiabá”.
Ela já havia programado se mudar para outro estado no segundo semestre, onde iria cursar uma faculdade particular. No primeiro semestre juntaria dinheiro para a mudança. “Mas eu resolvi adiantar, até vou trocar a faculdade para me adequar. Passei em uma federal também, na qual decidi estudar”.
Pedido de desculpas
Quando a amiga compartilhou o caso em suas redes sociais, alguns temeram as consequências.
“Alguns passaram a me procurar insistentemente pedindo desculpas e por isso fiquei até uns três dias sem usar o celular. ‘Sabe o que é? Todos queriam ficar com você mas você escolheu ele. Ficamos com raivinha’ disse um deles para mim”.
Foi então que a jovem passou a pensar bastante sobre essas atitudes. “Eu passei a perceber tantas situações que vivi que eram claramente um assédio. Antes não tinha consciência disso, mas esse episódio me despertou. Quero que eles pensem muito sobre a atitude que tiveram”.
O delegado Claudio Alvares Santana, levando em consideração aos meios empregados, é possível que o caso seja investigado pela Gerência de Crimes Virtuais, da Polícia Judiciária Civil. Segundo ele, um setor qualificado para investigar crimes ocorridos no ambiente virtual, já que se trata de compartilhamento via aplicativo de conversa.
Valedoitaunas/Informações O Livre