Alteração em Mustang pode ter provocado acidente em Santa Teresa
05 de maio de 2021Laudo preliminar apontou possível alteração no pedal do acelerador, o que pode ter travado a funcionalidade do item, ocasionando o disparo do veículo e o deixando sem controle
Dyelika Jareta: “Serão cerca de seis meses de recuperação e sem poder colocar o pé no chão – Foto: Marcelle Altoé
Sistemas de segurança do Mustang GT Premium, 5.0, V8, ano 2018, que colidiu em uma carreta no último dia 8, no Centro de Santa Teresa, região Centro-Serrana do Espírito Santo, estavam desligados. É o que aponta o laudo realizado por uma perícia técnica especializada.
A avaliação preliminar, solicitada pela família da advogada Dyelika Cristina Jareta Freire, de 37 anos, que dirigia o carro na hora do acidente, constatou possíveis defeitos mecânicos. Entre as falhas apontadas no documento também estão o defeito no pedal do acelerador, falha no freio ABS, no controle de estabilidade e no controle de tração do veículo, que estavam inoperantes.
Após o acidente, o marido de Dyelika, que havia comprado o carro de luxo 12 horas antes do acidente, descobriu que o automóvel era usado pelo antigo dono em corridas de alta velocidade, inclusive na pista de Interlagos, em São Paulo.
A advogada disse que, antes de fechar o negócio, o marido dela questionou se o carro, por ser esportivo, estava nas configurações originais e os vendedores garantiram que sim. “A gente comprou o carro porque o ex-proprietário garantiu que o veículo era original. Nós jamais compraríamos um automóvel se soubesse que não teria nenhuma condição segura de uso. Jamais eu colocaria a vida da minha família em risco”, desabafou a advogada.
Dyelika conta que tinha acabado de sair de casa para levar os filhos (17 e 6 anos) ao dentista, quando o acidente aconteceu, a cerca de 100 metros da residência da família. “A saída da garagem tem um quebra-molas, tem um cruzamento. Não tem como acelerar, não tem como correr. Assim que eu fui para entrar na curva eu senti que o pedal do acelerador afundou e eu pisava no freio e também não funcionava. Foi quando o carro começou a ir para um lado e para o outro e, entre bater no muro, do lado que estavam os meus filhos, e bater do meu lado eu preferi que batesse do meu lado. Foi quando bateu de frente com a carreta”, explicou emocionada.
Com o impacto, a advogada sofreu traumatismo craniano, quebrou duas costelas que perfuraram o pulmão e teve que passar por uma cirurgia para inserir três pinos na perna porque o fêmur se rompeu totalmente. De acordo com o médico, serão pelo menos seis meses de recuperação, com fisioterapia e sem colocar o pé no chão. “Dependo de alguém para tudo agora. A recuperação está sendo lenta e muito dolorosa”, lamentou.
O filho mais novo dela, E.J.F.P., de 6 anos, que estava no banco traseiro do automóvel, também fraturou o fêmur, teve que passar por cirurgia para inclusão de pino e não poderá colocar o pé no chão por pelo menos quatro meses. O filho mais velho, B.J.F.P., de 17 anos, que estava no banco da frente, do carona, precisou de pontos no supercilio, feriu o olho esquerdo e teve machucados pelo corpo.
Dyelika Jareta passará por pelo menos seis meses de recuperação e com fisioterapia – Foto: Marcelle Altoé
O advogado da família, Rainaldo Oliveira, disse que a família vai solicitar outro laudo técnico para comprovar as falhas apontadas na análise preliminar. “Se ficar comprovado que o carro tinha sido alterado, o que deve ser confirmado em perícia judicial, o vendedor assumiu o risco e não informou aos compradores, nós vamos adotar as medidas legais cabíveis, pedindo a reparação de todos os danos provocados. É uma situação bastante complicada porque gerou lesões corporais graves para a família toda que comprou o veículo de boa-fé”, explicou.
Mesmo diante da gravidade dos ferimentos sofridos pela advogada e pelos dois filhos, Dyelika acredita que teve um livramento de algo mais grave. “Deus permitiu que fosse aqui perto de casa, em uma velocidade baixa, para que a gente se machucasse, mas se reerguesse. Porque se fosse em uma rodovia eu não tenho noção do estrago que seria, se a gente sobreviveria”, desabafou.
A advogada espera que a justiça seja feita. “Pra mim está sendo muito difícil estar em cima de uma cama, depender de alguém para tudo. Eu trabalhava, corria atrás e agora não posso nem ir ao banheiro”, lastimou.
Ataques nas redes sociais
Por causa do acidente, a advogada conta que sofreu muitas críticas nas redes sociais. “Eu fiquei muito triste quando saí do hospital e vi um monte de mensagem na internet dizendo que o acidente aconteceu porque sou mulher, que mulher não sabe dirigir, muito menos um carro esportivo. Que eu devo ter feito alguma coisa errada para o veículo se desgovernar e, na verdade, eu não fiz nada! O acelerador que afundou e o freio não funcionou também. Eu não tive culpa!”, esclareceu em lágrimas.
Dyelika explicou que tem experiência na direção pois dirige desde os 18 anos, inclusive carros esportivos. “Eu sempre dirigi. Já tive outros carros esportivos e nunca me envolvi em acidente”.
Solidariedade na doação de sangue
A advogada fez questão de agradecer todos que, de alguma forma, deram forças a ela, principalmente aos amigos advogados que promoveram um mutirão de doação de sangue. “Eu agradeço muito a toda equipe do hospital e aos meus amigos advogados que se juntaram para doar sangue para mim. Eu acredito que vão salvar a vida de muitas pessoas ainda, porque o Hemoes disse que foram muitas doações para mim”, agradece em lágrimas.
O acidente
O Mustang ficou com a frente destruída e teve perda total – Foto: Arquivo Pessoal
Dyelika e os dois filhos ficaram gravemente feridos em um acidente na manhã de 8 de abril, no Centro de Santa Teresa, região Centro-Serrana capixaba, após o carro em que eles estavam, um Ford Mustang, bater de frente em uma carreta. O acidente foi registrado por uma câmera de segurança de um morador.
As imagens mostram que o carro de luxo tinha acabado de sair de uma rua lateral, a da casa da advogada, e ao entrar em uma via principal, se desestabilizou, invadiu a contramão e acabou batendo na carreta. O motorista do caminhão não se feriu.
O Mustang, comprado na noite anterior ao acidente e avaliado em mais de R$ 300 mil teve perda total. A família nem teve tempo de fazer o seguro para o veículo, pois o acidente ocorreu na manhã seguinte à compra.
Valedoitaúnas/Texto de Marcelle Altoé