Advogada, nova esposa de João de Deus presta serviço como conciliadora para o TJ-GO
04 de maio de 2022Órgão ressalta que a mulher não possui vínculo empregatício com o tribunal. Casal pediu conversão da união estável em casamento em cartório de Anápolis e processo deve ser concluído nesta quarta-feira (4)
João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, e advogada Lara Cristina Capatto – Foto: Reprodução
A advogada Lara Cristina Capatto, que oficialmente deve se tornar a nova esposa de João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, nesta quarta-feira (4), presta serviços ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). No entanto, o órgão ressalta que ela não possui vínculo empregatício com o tribunal.
"Lara Cristina Capatto foi aprovada para atuar como conciliadora auxiliar de Justiça, posto sem vínculo empregatício com o tribunal", explica o tribunal, em nota.
A advogada que atua como mediadora esteve em união estável com o religioso desde 1º de setembro de 2021, segundo informações de um cartório de Anápolis. No entanto, no dia 8 de abril, o casal pediu a conversão da união estável em casamento. O processo tem previsão de conclusão nesta quarta-feira (4).
O g1 tentou contato com a advogada Lara Cristina Capatto, por mensagens e ligações, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Conciliadora auxiliar de Justiça
Por não estar inclusa no quadro de servidores do órgão, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás explica que a função de mediador ou conciliador de Justiça funciona por meio da prestação de serviços.
Não há, no entanto, informações sobre quando Lara foi aprovada para prestar serviços ao órgão, nem a frequência em que estes serviços ocorreram, e se ainda ocorrem.
Segundo o tribunal, "qualquer pessoa com capacitação em métodos consensuais pode se cadastrar para atuar como conciliador; mediador auxiliar da Justiça".
Área de atuação
Apesar da prestação serviços ao TJ-GO, a inscrição da Ordem dos Advogados de Lara Cristina pertence ao conselho seccional do Estado São Paulo. De acordo com a Ordem, a situação cadastral da advogada é regular.
No entanto, o endereço profissional de atuação da nova esposa de João Teixeira é de Anápolis, a 55 km de Goiânia, onde o religioso cumpre prisão domiciliar após ter sido condenado por crimes sexuais contra mulheres que o procuraram para tratamentos espirituais.
João de Deus durante ida a unidade de saúde em Aparecida de Goiânia – Foto: Renata Costa/TV Anhanguera
Condenações
João de Deus sempre negou ter cometido qualquer abuso durante os atendimentos espirituais que realizou durante anos na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.
O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) já denunciou o religioso 15 vezes por crimes sexuais. João Teixeira de Faria já foi condenado por abusar de dez mulheres. Em juízo, restam 12 denúncias, as quais envolvem 56 mulheres, que ainda aguardam o julgamento.
De acordo com o Tribunal de Justiça, João de Deus já foi condenado a:
- por posse ilegal de arma de fogo– pena de 4 anos em regime semiaberto, em decisão de novembro de 2019;
- por crimes sexuais cometidos contra quatro mulheres– pena de 19 anos em regime fechado, em decisão de dezembro de 2019;
- por crimes sexuais cometidos contra cinco mulheres - pena de 40 anos em regime fechado, em decisão de janeiro de 2020;
- por violação sexual mediante fraude– pena de dois anos e meio, que podem ser cumpridos em regime aberto, em decisão de maio de 2021;
- por estupro e estupro de vulnerável contra quatro mulheres– pena de 44 anos de prisão, em decisão de novembro de 2021.
- por violação sexual mediante fraude– pena de quatro anos de prisão, em decisão de janeiro de 2022.
Médium João de Deus durante cena de filme – Foto: Divulgação
Denúncias
A primeira mulher a denunciar publicamente que foi sexualmente abusada por João de Deus foi Zahira Leeneke Maus, uma coreógrafa holandesa. Ela esteve no programa Conversa com Bial e contou sobre a violência sofrida enquanto esteve em Abadiânia para receber um atendimento espiritual.
Zahira disse que ouviu relatos de outras mulheres e concluiu que havia um sistema para as vítimas. "A primeira coisa é 'vire de costas, eu vou te curar'. Existe um padrão (...) Você é manipulada a acreditar na cura”, disse.
Após a entrevista da holandesa, outras mulheres começaram a denunciar que foram abusadas sexualmente por João de Deus durante atendimentos espirituais. Uma força-tarefa foi criada para investigar os crimes descritos em mais de 300 relatos recebidos.
Valedoitaúnas (g1)